sexta-feira, maio 27, 2005
Como o governo operou para abortar a CPI dos Correios
Da Agência Estado citada pelo jornal Último Segundo, do IG:
"A frustrada operação contra a CPI dos Correios levou o Palácio do Planalto a liberar num único dia - a última terça-feira - um total R$ 12 milhões para emendas de parlamentares ao Orçamento da União que estavam retidas na rubrica "restos a pagar".
O valor corresponde a 26% de todas as despesas autorizadas nessa rubrica ao longo deste ano. Nos primeiros cinco meses, o governo tinha liberado apenas R$ 47 milhões para as emendas de parlamentares. Com os restos a pagar quitados na terça-feira (24), o total sobe para R$ 59 milhões.
A liberação da verba milionária foi uma exigência de parlamentares aliados e reforçou a ofensiva para que congressistas retirassem o apoio à criação da CPI. Do ponto de vista político, a manobra foi mal-sucedida. Em números redondos, o PMDB abocanhou R$ 2,2 milhões dos restos a pagar, enquanto o PT ficou com outros R$ 2 milhões.
O PC do B arrancou em emendas mais R$ 600 mil. "Houve um aumento de 23% para o PT, 59 % para o PMDB e 46% para o PC do B em relação as liberações anteriores", afirmou o deputado Alberto Goldman, líder do PSDB na Câmara.
A operação, que foi comandada pelos ministros José Dirceu, chefe do Gabinete Civil, e Aldo Rebelo, da Coordenação Política, mobilizou ministros, governadores, parlamentares petistas e até mesmo o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), João Pedro Stédile - que telefonou para três deputados pedindo que retirassem a assinatura de apoio à CPI dos Correios.
A abordagem era direta e clara. Nas ligações e conversas cara-a-cara, os governistas avisavam que quem retirasse a assinatura do requerimento de CPI seria imediatamente premiado com a liberação de verbas. Abordado pelos operadores do governo, o deputado João Magalhães (PMDB-MG), que tinha apoiado a CPI, ligou para o colega João Correia (PMDB-AC), que também assinara o requerimento, e avisou: "Tira a assinatura porque eles vão pagar as nossas emendas".
Entre os parlamentares, o grupo mais cético com a generosidade palaciana era a turma de deputados federais ligados ao ex-governador do Rio Anthony Garotinho. O deputado Eduardo Cunha (PMDB -RJ) disse que não se pode acreditar em o governo que promete, mas não cumpre: "Esse é o governo do vou-mas-não-vai". Ao invés de receberem verbas para evitar a CPI, eles decidiram somente negociar com o governo já com a CPI aberta e em pleno funcionamento.
Outras bancadas preferiram não esperar. A bancada da Comissão de Agricultura levou R$ 3,8 milhões e a do Piauí outros R$ 500 mil. A bancada carioca mordeu R$ 240 mil, uma fatia também nada modesta. Apesar de não evitado a CPI, o governo considera que a operação-abafa serviu para pelo menos unir os ministros Aldo Rebelo e José Dirceu em torno de um projeto comum."
BLOG Ricardo Noblat
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