segunda-feira, abril 25, 2005

VINICIUS TORRES FREIRE :Bento, Bush e blogs

 SÃO PAULO - O mundo, oh, cada vez mais conservador, suspiramos nós ali pelos 40 ou mais, da última geração que se interessou por política, diante de Bento 16, Bush e quejandos.
O mundo é um lugar injusto e mau como sempre, apesar de vacinas e de mais bens em toda parte. Nós, que já não amávamos tanto a revolução, sabemos porém que o inferno na terra poderia ser algo menor. Mas o que conservadores de fato conservam?
Gente de 20 anos e pico desconectou-se das sabedorias e do mundo convencionais. Orbitam no Orkut, blogs e na música ruim de iPods. "Ficam", mas parecem caretas. Literatura e artes, tais como cultivadas até o modernismo, lhes são tão estranhas como entender de heráldica.
Ongueiam em ONGs, mas desdenham a política da polis, que talvez nem exista mais mesmo, pois vivemos sob impérios, finanças globais ou armas americanas, poderes que a velha política não sabe enfrentar.
Mas como saber o que sairá deste caldo? "Conservador" ainda é palavra útil? A política, o Estado, controla mudanças? O que podemos prever do mundo acelerado por tecnologias informacionais, financeiras e biológicas? Não previmos nem o desabamento ridículo do comunismo, a letargia do Japão, a virada chinesa, temas de sabedorias convencionais.
Minha filha, oito anos hoje, há meses montou seu blog. Acha o que quer na internet por meio do Google, apesar da ortografia ainda caoticamente infantil. Aos seis anos, explicava que casais de homens têm de adotar filhos porque não têm vagina e útero para gerar crianças. Já pediu piercing e celular, obviamente negados.
Não teve educação religiosa, mas desde os cinco anos se dizia "católico-judeusa" ("judeusa" por causa de amigos da escola e as duas fés porque "somos todos irmãos"). Teme seqüestros. Acha exótica e chata minha infância sem DVDs e computador. Gosta do "Picapau Amarelo", mas na TV (em que dona Benta usa e-mail!).
Numa tabuleta suméria de 5.000 anos (está no Louvre), alguém já se queixava dos jovens e de como o mundo ficava pior. Tudo verdade? Talvez. Só mais rápido, decerto.

FOLHA DE S.PAULO

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