A inflação ao consumidor nos Estados Unidos registrou alta de 0,6% em março, acumulando um aumento de 3,1% em 12 meses, segundo o Departamento do Trabalho. A taxa anualizada do primeiro trimestre projetou uma inflação da ordem de 4,3% em 2005. O índice de preço no atacado também apresentou sinais de aceleração, um aumento de 0,7% em março e de 4,9% em 12 meses. Energia e transporte inflaram os índices de preços devido ao aumento médio de 13% no barril do petróleo durante o mês de março.
Esses dados parecem sinalizar que o Fed (o banco central americano) deve continuar aumentando a taxa de juros de curto prazo para um patamar menos expansionista. Em sete movimentos consecutivos, a taxa básica foi elevada de 1% ao ano em junho de 2004 para 2,75% em abril de 2005, mas ainda abaixo da taxa de inflação. A economia já começou a emitir sinais de redução no ritmo de crescimento. Estima-se que a taxa de expansão da economia americana possa cair de 3,8% no quarto trimestre de 2004 para algo entre 3% e 3,4% no segundo trimestre de 2005.
Os analistas econômicos mais pessimistas, no entanto, sinalizam a ameaça de uma forma moderada de "estagflação", fenômeno caracterizado por baixas taxas de crescimento e preços em alta, que ocorreu durante os anos 1970. A configuração desse processo dificultaria a implementação da política monetária pelo Fed. Por um lado, a alta dos juros de curto prazo poderia conter a elevação dos índices de preços, mas aprofundar a desaceleração econômica. Por outro, a interrupção no processo de subida dos juros poderia auxiliar a manutenção do crescimento, mas fomentar os repasses de preços, realimentando o processo inflacionário.
De algum modo, os efeitos contraditórios da política monetária americana têm se refletido nas taxas de juros dos títulos de dez anos do Tesouro. Elas persistem em torno de 4,25%, a despeito da elevação de 1,75 ponto percentual nos juros de curto prazo e do aumento nos índices de inflação. Para diversos analistas, a taxa de juros de longo prazo já deveria estar entre 4,6% e 4,8%. Isso parece indicar que os mercados financeiros estão antecipando uma desaceleração mais acentuada da economia americana e não promovem a elevação dos juros de longo prazo.
Uma alta dos juros longos pode reduzir os lucros das corporações e desequilibrar os balanços das famílias americanas, altamente endividadas em cartões de crédito e no mercado imobiliário. Amplia-se, assim, o grau de incerteza sobre a trajetória da maior economia do planeta e, conseqüentemente, seus impactos sobre os países emergentes, como o Brasil.
FOLHA DE S PAULO EDITORIAIS
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