sábado, abril 23, 2005

OLHAR AS FAVELAS

O noticiário envolvendo as favelas cariocas quase sempre está associado ao crime organizado, ao tráfico, às chacinas. Por isso, o problema da expansão horizontal dessas habitações precárias no Rio pode parecer a alguns um assunto menor. Não é. Ele diz respeito à viabilidade socioambiental da cidade. As matas e áreas verdes que formam a silhueta da paisagem carioca vêm sendo destruídas há décadas.
É, por isso, boa a notícia revelada pelo estudo do Instituto Pereira Passos, da Prefeitura do Rio de Janeiro. Baseado em fotos de satélites, ele constata a redução do crescimento horizontal das favelas Rocinha e Rio das Pedras. Seria muito útil que esse tipo de levantamento fosse estendido às demais favelas e morros do Rio.
De 1999 a 2004, o crescimento da área ocupada foi sensivelmente mais comedido do que nas décadas anteriores. Enquanto de 1975 a 1999, a cada qüinqüênio, a Rocinha cresceu cerca de 10%, e a Rio das Pedras, 28%, nos últimos cinco anos a expansão caiu respectivamente para 3% e 6%. A prefeitura parece ter adquirido um controle mais efetivo da situação, podendo, agora que dispõe de um sistema de informações mais sofisticado, combater na sua extensão o processo de desmatamento.
A redução da expansão horizontal não significa, porém, que diminuiu a precariedade habitacional das populações faveladas. Pelo contrário, o adensamento e a verticalização de muitas favelas criaram situações dramáticas. Na Rio das Pedras, por exemplo, o crescimento demográfico foi de 133% ao longo dos anos 90.
Canalizar recursos para o saneamento e a urbanização das áreas precárias e priorizar a produção de unidades novas para a população de baixa renda, onde se concentra o déficit habitacional, são as únicas maneiras de enfrentar o problema. A ausência do Estado em áreas sem regularização fundiária e urbana é fator decisivo na explosão do crime organizado.

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