MADRI - Nesse mundo de crescente selvageria, vem um toque romântico da UEFA, o organismo que cuida do futebol europeu: ela acaba de decretar que, a partir da temporada 2006/ 2007, cada clube terá de incluir, na sua lista de 25 jogadores autorizados a participar de campeonatos, ao menos dois formados no próprio clube e mais dois registrados na federação nacional.
É uma forma de diminuir a maré montante de contratações de estrangeiros. O tom de "romantismo" foi detectado por Ravn Omdal, o vice-presidente da UEFA. Posso estar enganado, mas suspeito de que ele queira dizer que a obrigatoriedade de ter no elenco ao menos dois jogadores formados no clube permitirá o resgate da expressão "amor à camisa" -tão em desuso em todos os campos de atividade que quem a pronuncia é visto como cínico ou anormal (de repente, é mesmo).
Tomara que Omdal tenha razão, mas é mais provável que o instinto selvagem prevaleça sobre as aparentes boas intenções.
Ainda assim, a iniciativa da UEFA é interessante: trata-se de tentar reintroduzir no futebol um teor de concorrência que se vai esfarelando ante o poder do dinheiro. Hoje, os grandes clubes compram tantos bons jogadores que muitos torneios acabam virando um monopólio ou duopólio, como está ocorrendo este ano na Espanha (Barcelona x Real Madrid) e na Itália (Milan x Juventus).
Interessante pelo seguinte: no fundo, trata-se apenas de resgatar, ao menos no futebol, o que deveria ser a essência do capitalismo, ou seja, a concorrência, a competição. Quanto mais diversificada, melhor para o consumidor/cidadão.
Fora do futebol, o avanço da selvageria, expressa, por exemplo, no excesso de fusões e incorporações de empresas, pode tirar a graça do capitalismo e torná-lo tão autoritário quanto o comunismo que derrotou por sua maior eficiência.
@ - crossi@uol.
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