BRASÍLIA - Nada como uma entrevista para deixar mais claro para a população o que pensa o presidente da República. Ontem, Lula fez um bem para a sua administração ao ficar uma hora e 19 minutos aturando as perguntas de 14 jornalistas.
Estamos todos agora sabendo que Romero Jucá e Henrique Meirelles só saem do governo se forem para a cadeia. De alguma forma, Lula já havia expressado essa opinião. Ontem, ficou cristalina sua devoção aos dois subordinados enrascados.
Também está evidente que a política econômica é essa que está aí e ponto final. Podem ser realizados ajustes. O governo quer tentar renegociar contratos com prestadoras de serviços. Deve reduzir tarifas de importação. Mas Lula está obcecado com o combate à inflação. Os juros ficarão nas alturas por um bom tempo. Afinal, o presidente disse ser "unha e carne" com Palocci.
Nessa área econômica, vale registrar uma expressão perdida de Lula: "Nós somos um país capitalista". Ótimo. Já é um começo quando o presidente da República diz isso em público -ainda que o Brasil viva numa espécie de pré-capitalismo, muito louvado por uma parcela do PT.
Na entrevista de ontem, Lula revelou em público sua insatisfação com o relacionamento entre o Planalto e o Congresso. Mudanças vêm aí. José Dirceu e Aldo Rebelo só foram citados assim, de maneira indireta.
É possível dizer que o presidente foi evasivo? Ou que a entrevista deixou de fora vários assuntos urgentes, como o excesso de MPs e a alta carga tributária? Pode ser. Mas essas ausências se deram mais por conta do ineditismo do encontro -o primeiro depois de dois anos e quase quatro meses de mandato. Seria impossível sabatinar o presidente sobre todos os temas relevantes da República em pouco mais de uma hora.
A regularidade desses contatos entre mídia e Palácio do Planalto ajudará a fortalecer a democracia no país. Tudo depende de Lula -que se autocitou 220 vezes ontem.
FOLHA DE S. PAULO
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