sábado, abril 23, 2005

Fazenda é modelo de descaso do governo

De Pedro Motta Gueiros em O Globo, hoje:

"Na entrada do assentamento Eldorado do Carajás II, a revoada de borboletas amarelas sobre a lavoura verde pinta uma ilusória bandeira da prosperidade. No discurso em que transferiu a posse dos 19.700 hectares da Fazenda Maísa, em 20 de dezembro de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu fazer dela seu modelo de reforma agrária.
Dezesseis meses depois, os conflitos passaram para o lado de dentro da cerca, onde pessoas disputam comida com animais. Nos barracos cobertos por plástico preto, o calor e a realidade tornam-se infernais sob o sol de Mossoró, a segunda cidade do Rio Grande do Norte, a cerca de 277 quilômetros de Natal.
Para as 450 famílias ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), a chegada das borboletas no período das chuvas é ameaçadora. Antes de criar asas, as lagartas destroem a plantação de milho e feijão. Os animais ficam sem ração.
Para evitar que as galinhas comam o próprio ovo, Maria Belo da Silva, de 34 anos, queimou-lhe os bicos. Ela vive com o marido e o cunhado, todos desempregados, e os dois filhos:
— Está tudo parado. Só temos a lavoura, e a lagarta está comendo o nosso feijão. Aqui só se fala em ovo.
Mais do que a falta de dentes, o sorriso constante de Maria revela a face da resistência. Enquanto a chuva não entra pelas paredes vazadas, a casa está impecavelmente arrumada. A cama está coberta por uma colcha azul, engomada e com babados:
— Agradeço por ser assim, se fosse triste já tinha morrido.
Sobre a terra que ganharam em dezembro de 2003, os agricultores imaginavam erguer casas e uma cooperativa produtiva. Ainda esperam pelos créditos para concretizar o sonho. Hoje vivem em casas de barro, madeira e papelão, que não resistem à chuva nem ao calor. Com temperatura acima de 40 graus, literalmente pegam fogo."

O QUE LULA DISSE QUANDO ESTEVE LÁ:

"Porque nós precisamos atingir a perfeição nesses assentamentos para que a gente possa, inclusive, mostrar ao mundo que o tipo de reforma agrária que vamos fazer, no nosso governo, não é apenas dar um pedacinho de terra e um pouquinho de caatinga para o trabalhador, não. Disso a gente já está cansado"

"A gente quer a terra, a gente quer o financiamento, a gente quer assistência técnica, a gente quer se organizar em cooperativa, a gente quer a agroindústria e a gente quer vender o produto que produziu por um preço. E o governo tem que ajudar até que as pessoas atinjam a capacidade de andarem sozinhas"

"É assim que a gente vai fazer, daqui para a frente. E esta fazenda vai ser uma fazenda-modelo..."

BLIG
Ricardo Noblat

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