BRASÍLIA - Condoleezza Rice chega e Zé Dirceu vai. Vai para a Venezuela, bater um papo com o chapa Hugo Chávez, símbolo do anti-americanismo na América do Sul.
Coincidência ou não, o movimento de Dirceu é bem curioso, inclusive porque a ida a Caracas fecha uma espécie de círculo: ele cochichou com Fidel Castro em Cuba, deu uma passadinha em Washington para falar com a própria Rice e agora se reúne com Chávez em Caracas.
Fidel é o maior inimigo dos EUA e o maior amigo de Chávez. Se Dirceu pensa em intermediar uma bandeira branca entre Washington e Havana, já preparando terreno para um pós-Fidel o menos traumático possível, deve não só avisar como consultar Chávez. O que não poderia é Fidel e Dirceu articularem uma aproximação com os EUA e deixarem Chávez falando sozinho.
Formalmente, a agenda de Condoleezza Rice no Brasil exclui tudo o que for comércio e dinheiro (como a Alca, por exemplo) e inclui tudo o que for político e estratégico: a crise no Equador, a convivência com a Venezuela, as relações dos EUA com a América Latina e, evidentemente, as questões bilaterais. De raspão, deve-se tratar também da cúpula dos países árabes e sul-americanos, em Brasília, em maio. Tudo com um tom amistoso, herdado do ex-secretário de Estado Colin Powell.
E a agenda de Dirceu na Venezuela, apesar de não divulgada, deve envolver as dificuldades internas de Chávez, as relações com Washington (no domingo, ele rompeu o acordo militar Venezuela-EUA) e também os negócios entre os dois países. Como se sabe, o Brasil tem muitos interesses e projetos na Venezuela, como pontes, metrôs e aviões, muitos deles com investimentos do BNDES.
O fato é que a política externa anda bastante animada e com vários protagonistas: Celso Amorim, Marco Aurélio Garcia, Samuel Pinheiro Guimarães e, agora, o super-Dirceu. Há risco de congestionamento. E, portanto, de trombada.
FOLHA DE S.PAULO
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