BRASÍLIA - Pode-se dizer que a política externa brasileira já viveu melhores momentos e já foi mais elogiada no governo Lula, mas é preciso reconhecer que a decisão de conceder asilo ao presidente deposto do Equador Lucio Gutiérrez é correta.
O Brasil disputou o comando da OMC (Organização Mundial do Comércio) crente que estava abafando depois de criar o G-20, frente de países contra o protecionismo agrícola. O candidato brasileiro, porém, dançou na primeira rodada de consultas. A opção agora de apoiar o europeu Pascal Lamy é a antiopção, já que ele é o anti-G-20. Quase um vexame.
Quem carimbou a viagem de Lula à África como fracasso foi nada menos que o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), depois de reclamar publicamente da visita à Nigéria, que é o país mais rico, interessante e promissor do roteiro.
Quanto ao Haiti, o governo transformou uma terra de ninguém numa terra do Brasil, acreditando piamente na promessa de mundos e fundos da comunidade internacional. Eles nunca chegaram.
E, quanto a Argentina, o principal vizinho só faz o que quer, dando de ombros ao discurso brasileiro do "um por todos, todos por um".
Agora mais essa: o Brasil virou o novo Judas dos manifestantes de rua no Equador. Na década de 60, gritávamos "fora yankees!". No novo século os "yankees" somos nós?
Apesar de tudo, o governo acerta ao conceder o asilo, que é previsto em tratados internacionais, é jurídico, político e tem caráter humanitário. Como negar, deixando Gutiérrez ser linchado em praça pública?
O estranho é o Equador apresentar tanta resistência, já que o asilo é útil para todos: para o asilado, obviamente, para o país que o recebe e demonstra grandeza e para o país que joga a bomba para frente. Enquanto Gutiérrez permanecer em Quito, nem o Equador recupera a paz, nem os manifestantes vão para casa, nem o novo governo começa efetivamente a governar. Asilo já!
FOLHA DE S PAULO
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