BRASÍLIA - "Podem especular à vontade, o José Dirceu é uma pessoa importante do governo brasileiro, do Partido dos Trabalhadores, e foi discutir com uma pessoa com a qual temos relações muito próximas. Podem se preparar, porque faremos outras milhões desse tipo."
A declaração é do assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ao falar sobre a ida de Dirceu a Caracas para uma conversa misteriosa com Hugo Chávez. Aviões pra lá e pra cá, versões, especulações. Tudo meio cinematográfico e ao gosto de velhos militantes que viviam espetacularmente, trocando de país, de identidade e até de rosto.
Dirceu falou com seu amigo Fidel Castro, depois encontrou-se em Washington com Condoleezza Rice, agora esteve com Chávez em Caracas e voltou rapidinho a Brasília para novamente se encontrar com Condoleezza. Pela lógica e pelas especulações de quem é do ramo, ele tenta uma intermediação dos EUA com Havana e com Caracas antes que eles todos se explodam.
Tentar, veja bem, não significa conseguir. E o que se diz à boca pequena em Brasília, em meio a fantasias aumentadas e realidades mal contadas, é que Dirceu foi dizer a Chávez o que queria (contra os últimos movimentos dele anti-EUA) e acabou ouvindo o que não queria (que o Brasil não tem nada com isso).
Como disse Marco Aurélio, todos devemos nos preparar, porque, a par da diplomacia oficial, haverá ainda "milhões" de reuniões políticas de Dirceu no continente. Outra delas, aliás, já será hoje e amanhã, em Montevidéu: ele e Marco Aurélio vão papear com peixes graúdos dos partidos de esquerda que estão no poder na Argentina, no Uruguai e no Chile para discutir o continente.
A esquerda quer continuar sendo de esquerda, mas se modernizando, disputando mercados e falando de amiguinho para amiguinho com os EUA. O problema, como sempre, é Chávez. Enquanto o resto afina o discurso, ele engrossa suas armas.
FOLHA DE S.PAULO
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