"Marta tem a audácia dos intuitivos
desprovidos de autocensura. Esse tipo
tende a fazer sucesso nas urnas de tempos
em tempos. Seus predecessores nesse estilo
são Paulo Maluf e Jânio Quadros"
A ex-prefeita Marta Suplicy, de São Paulo, é um dos fenômenos políticos mais interessantes do Brasil. Deu-se bem no papel de sexóloga num programa matinal da Rede Globo anos atrás, mas não tem dotes intelectuais que chamem atenção. Falta-lhe sensibilidade social. Como prefeita, ganhou o apelido de "Martaxa" por ter abusado do aumento de tributos. Aos 60 anos, com três filhos adultos e netos, casou-se em cerimônia adequada a noivinhas de 18. Desfilou por bairros pobres com um guarda-roupa tão caro e exibido que era difícil acreditar que nada visse de incongruente no fato de uma prefeita vestir-se assim diante de gente sacrificada no curral do salário mínimo. Como prefeita, seu desempenho foi uma lástima, pela incompetência administrativa e pela determinação de fazer qualquer coisa a seu alcance para se reeleger, mesmo que contra os interesses da cidade e as tradições de seu partido.
Marta tem a audácia dos intuitivos desprovidos de autocensura. Esse tipo tende a fazer sucesso nas urnas de tempos em tempos. Seus predecessores nesse estilo são Paulo Maluf e Jânio Quadros, que também foram prefeitos de São Paulo. Como os dois, Marta é impermeável às evidências que lhe são contrárias.
Marta Suplicy voltou na semana passada a São Paulo, depois de sua derrota nas últimas eleições municipais. Qualquer outra pessoa estaria expressando certa preocupação com a péssima imagem que deixou como prefeita. Marta produziu um desastre financeiro na prefeitura. Na área de infra-estrutura, guardou para os últimos meses antes das eleições uma lista espalhafatosa de obras eleitoreiras que já estão apodrecendo aos olhos da população. Deixou buracos nas avenidas da cidade, abriu túneis que já estão sendo reformados porque não resistiram às chuvas de verão. Suas escolas-modelo, copiadas de projetos executados no Rio de Janeiro por Leonel Brizola e em Brasília pelo presidente Collor, foram também tentativas demagógicas de encantar o eleitor pobre e incauto das periferias. Na campanha da reeleição, aliou-se ao ex-inimigo Paulo Maluf, casamento impensável para uma madura senhora de 60 anos.
Marta voltou decidida a ser a candidata do PT ao governo de São Paulo em 2006. Acha que o candidato do PT será aquele que garantir mais votos para a reeleição de Lula. Mesmo tendo perdido a prefeitura para o tucano José Serra, ela se considera uma poderosa ferramenta para ajudar o companheiro Lula a ficar mais quatro anos no Planalto. Na semana passada, soube-se que Marta descumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal de uma maneira que, em tese, poderia levá-la a uma condenação de até dois anos de reclusão. Foi salva do embaraço pelo governo Lula, que por meio de uma medida provisória abriu uma brecha na Lei de Responsabilidade Fiscal para livrar Marta Suplicy da ameaça. Agora, ela está em campo para disputar a indicação do partido como candidata a governadora. Como aconteceu nos casos de Maluf e Jânio quando jovens, Marta poderá ludibriar a opinião pública com sua astúcia e chegar mais longe do que hoje se imagina. Os intuitivos audazes sem-censura podem fazer carreiras políticas meteóricas. Costumam terminar como figuras folclóricas.
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