sexta-feira, março 18, 2005
Primeira Leitura : Lula diz investir mais em saneamento que FHC
Presidente afirma que destinou 14 vezes mais recursos à área que o governo anterior; dados do Siafi mostram situação oposta
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira, que já investiu 14 vezes mais em saneamento básico do que o governo anterior em quatro anos. O discurso do presidente, feito durante entrega de casas populares em Aracaju (SE), e ao lado do ministro das Cidades, Olívio Dutra, se choca com a realidade de uma forma até desconcertante.
Primeiro por causa da comparação com o governo anterior, que não se sustenta nos números oficiais sobre o setor. De acordo com dados do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), nos dois primeiros anos do governo Lula, os investimentos da União em saneamento caíram a 10% daquilo que foi investido pelo governo FHC nos seus dois últimos anos de gestão. Dos R$ 643 milhões empenhados no Orçamento no ano passado, só 11,3% foram desembolsados.
O governo tentou contestar esses números, publicados no dia 6 último no jornal Folha de São Paulo, tarefa impossível uma vez que a fonte de informação é o próprio Siafi. A segunda coisa que choca no discurso de Lula é a referência ao suposto sucesso da política de saneamento básico quando se sabe que o setor não tem ainda nem mesmo um marco regulatório.
O projeto está pronto, mas permanece engavetado no Executivo, já que o governo não considerou prudente enviá-lo à Câmara depois da derrota que sofreu na eleição para a Presidência da Casa. O próprio Olívio Dutra anunciou o adiamento para “abril ou maio”.
Por fim, a imprensa em peso tem apresentado reportagens sobre a paralisia nas indústrias de equipamentos para saneamento básico, boa parte com linhas de montagem paralisadas e elevado índice de demissões desde a posse de Lula. Por fim, gabar-se de progressos nessa área chega a ser um escárnio quando se sabe que quase a metade da população não conta com colega de esgoto no país.
Mais tarde, Lula participou das comemorações dos 150 anos de fundação de Aracaju e assinou parcerias de financiamentos com a prefeitura da cidade, ocasião que o presidente aproveitou para falar dos recursos que vem sendo aplicados pelo governo para incentivar a atividade econômica no país. “Eu dizia ao governador, no aeroporto: o que nós colocamos de dinheiro em circulação neste país, nesses dois anos, possivelmente nem os bons economistas do nosso país imaginavam que fosse capaz”, afirmou o presidente, lembrando tanto programas de crédito — como de que estabelece desconto em folha de pagamento e o microcrédito — quanto os programas sociais, como o Estatuto do Idoso e o Bolsa-Família, cujos gastos crescentes vêm sendo apontados por analistas como empecilhos ao desenvolvimento.
Para Lula, é preciso fazer com que a economia brasileira não dependa apenas de investimentos externos. “Nós queremos que venham para cá todos os recursos do mundo, queremos que os nossos investidores invistam quanto quiserem, mas nós precisamos criar uma economia baseada na capacidade de financiamento que o Estado brasileiro tem que dar para aqueles que, sendo brasileiros, querem se transformar em microempresários, em pequenos empreendedores e fazer da sua criatividade, com um pouco de ajuda do Estado, um meio de sustentar a si e a sua família”, afirmou.
Protestos
A passagem de Lula por Aracaju provocou protestos. Logo que desembarcou na capital sergipana, às 11h, o presidente escapou da primeira manifestação. Cerca de 150 pessoas foram até ao aeroporto reivindicar readmissão na Petrobras, mas a comitiva presidencial saiu por uma ala reservada, e ele não viu a mobilização.
Depois, durante a entrega das moradias populares, a Guarda Municipal impediu que cerca de 200 manifestantes se aproximassem do palanque em que Lula discursava. Com faixas e cartazes, os manifestantes, sindicalistas da CUT e partidários do PSOL e do PSTU chamavam o presidente de traidor. “Lula, você é o maior traidor do São Francisco”, diziam as faixas, numa referência ao projeto de transposição do rio, que o presidente prometeu tirar do papel ainda neste ano.
O último compromisso oficial do presidente em Aracaju foi a inauguração da última etapa das obras da avenida São Paulo, que liga o centro da capital à divisa do município de Nossa Senhora do Socorro. No local, outro protesto, que, no entanto, o presidente não viu. Aqui também os manifestantes gritavam com megafones: “Lula, você é o maior traidor do Brasil”.
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