Os líderes partidários e deputados de maior expressão na Câmara já não estão vendo mais a menor graça na dita rebelião do baixo-clero, acham que Severino Cavalcanti passou das medidas e, portanto, é chegada a hora de tomar uma providência no sentido de restabelecer o equilíbrio ecológico atinente às coisas do poder.
Rodrigo Maia, líder do PFL, cuja condescendência com Severino era total no dia seguinte à eleição dele para a presidência da Câmara, tratou de organizar para a próxima terça-feira uma reunião de líderes com o objetivo não só de discutir o assunto, mas já apresentar uma resolução a Severino.
Os líderes querem que o espaço de decisão seja ampliado para além do presidente e sua meia dúzia de agregados nas mãos de quem se concentra hoje a prerrogativa de dizer o que vai ou não ser votado pelo plenário da Câmara.
Na concepção dos líderes, a pauta deve ser montada de comum acordo com eles e a presidência da Casa.
Não será uma tarefa fácil. Sinal nítido foi a transferência da reunião, inicialmente marcada para quarta-feira em cima do episódio que resultou na suspensão das trocas de ministros, por decisão unilateral de Severino.
Ele ignorou a data escolhida pelos líderes e remarcou o encontro de acordo com sua conveniência. O ato não amenizou o clima, ao contrário, serviu para indicar que Severino Cavalcanti não está muito disposto a compartilhar suas decisões.
Pois o cardinalato da Câmara pensa na tréplica e de forma radical: se o presidente não concordar, eles podem comandar uma espécie de greve parlamentar na qual só examinariam em plenário as medidas provisórias.
Os outros projetos de lei teriam as votações suspensas até Severino concordar em flexibilizar suas posições. Ou seja, se cumprirem a ameaça, teremos uma inédita obstrução coletiva contra o presidente da Casa e a expectativa de uma semana em que a crise estará instalada dentro do Parlamento.
De alguma forma, o Palácio do Planalto também está indo pelo caminho dos líderes e tentando contornar a autoridade de direito que a eleição de 15 de fevereiro deu a Severino Cavalcanti.
O presidente Luiz Inácio da Silva começou a chamar os presidentes dos partidos para conversar sobre as condutas das bancadas e, embora em alguns casos eles não tenham biografias adequadas ao qualificativo de cardeal, pelos postos acabam integrando o chamado alto-clero.
A tentativa de devolver o “baixo” à irrelevância de sempre é, note-se, uma maneira de amenizar o ambiente e proporcionar a Severino um transcurso de mandato razoavelmente normal, sem a eclosão do grande conflito que já começa a se delinear nas mentes mais atentas.
Mas o presidente da Câmara dificilmente entenderá esses movimentos como favoráveis a ele. Como seus mais sensatos conselheiros já preferem manter prudente distância, Severino resistirá e só aumentará suas dificuldades.
Nado sincronizado
Pode ser mera coincidência, mas não deixa de chamar a atenção a sincronia dos fatos: de um lado, Fernando Henrique Cardoso elogia o presidente pela suspensão das mudanças no Ministério; de outro, a ala oposicionista do PMDB amacia suas relações com o Planalto ao ponto de admitir apoiar a reeleição de Lula se o partido vier a tomar esta a decisão na convenção nacional de junho de 2006.
Alguma razão deve haver para esses movimentos, já que por afeição ao projeto do PT ou repentino acesso de ternura, não é.
Uma possibilidade é FH e seus amigos terem concluído que é cedo ainda para entrar numa escalada de radicalização sem volta e cujo resultado pode acabar favorecendo o adversário no caso, o PT.
Receita
O ministro José Dirceu assegura que a fritura em praça pública não enfraquece ministros nem tampouco paralisa a máquina administrativa.
De fato. Dizem até que passar meses discutindo quem entra ou sai do Governo fortalece sobremaneira os apontados como incompetentes e confere grande agilidade à administração pública.
Plebe rude
Há nas rodas de poder acentuada e crescente perplexidade com a vulgaridade que permeia o ambiente político. A preponderância do jeito plebe rude de ser é assunto em toda parte e surpreende até os mais calejados e com diferentes experiências na vida.
O embaixador Paulo Tarso Flexa de Lima, por exemplo, rodou mundo e acreditava já ter visto de tudo um pouco. Quarta-feira à noite, no entanto, confessava um tanto atônito numa recepção na embaixada de Portugal: “Nunca pensei que vivesse para ver o que estou vendo nos últimos dias”.
Carioca da Praça Mauá – o reino da velha malandragem –, acostumado a fazer política em áreas adversas, o deputado Miro Teixeira também percebe-se de repente um principiante: “Não apenas nunca vi nada igual, como jamais imaginei que poderia ver”.
Pelo sim pelo não, na hora do check-in no aeroporto, Miro anda preferindo usar a carteira da OAB à identificação da Câmara dos Deputados. De puro constrangimento com o comportamento da categoria.
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