Seria de saudar como meritória a decisão anunciada quinta-feira no Palácio do Planalto de transformar 2005 no “ano da eficiência” da máquina pública, não fosse a eficácia administrativa a própria razão de ser de um governo.
A expectativa da competência, supõe-se, é exatamente o que leva o eleitor a confirmar ou reformar a escolha de seus governantes para, no sistema brasileiro, períodos de quatro anos.
Portanto, soa estranha a confissão do Governo Luiz Inácio da Silva de que não tinha a eficiência como agenda prioritária quando se elegeu em 2002.
É verdade que o presidente havia dito semanas atrás que sua gestão começaria agora, no terceiro ano. Mas, à primeira vista, a frase pareceu apenas uma força de expressão significando o início do período de apresentação de resultados após a longa etapa de preparação e maturação dos projetos.
Agora, vê-se, não era. Tratava-se da pura expressão da mais cristalina verdade. A “agenda da eficiência”, ficamos sabendo, está sendo preparada há quatro meses no Ministério do Planejamento e, ao que se divulga, é um cardápio de medidas perfeitamente adequadas; a um governo de estréia.
Anunciam-se cortes de gastos e ações para dar agilidade a processos de licitação e sistema de compras do Governo. Ao mesmo tempo, no Ministério da Previdência, o novo titular da pasta promete redução de 40% no déficit.
A pergunta óbvia diante dessa agenda de meio de mandato é: o que estava então fazendo o Governo até agora que não controlava suas despesas, trabalhava com instrumentos administrativos impróprios ao andamento da máquina e, na Previdência, tinha o diagnóstico e a receita, mas não aplicava o remédio?
No caso das medidas para simplificar procedimentos internos de modo a permitir uma melhoria no funcionamento da máquina, normal seria que tivessem sido devidamente esquadrinhadas ainda na fase da transição, tão festejada como civilizada justamente porque a administração anterior propiciou – como de resto era sua obrigação fazer – acesso total aos novos gestores.
Fica-se aqui com a desconfiança de que, se tal período não foi utilizado para desvendar os meandros da administração e decidir sobre a adoção de métodos mais eficazes, então foi gasto só com a montagem do mapa do aparelhamento partidário do Estado.
Quanto aos gastos, difícil falar em contenção se a primeira medida foi justamente o aumento do número de ministérios. Até como simbolismo – um fator sempre bem manejado pelo PT – o inchaço da estrutura tem efeito negativo, desacredita o discurso da contenção.
Ainda mais que já ficou provada a inutilidade dos penduricalhos criados para servir, ao mesmo tempo, de asilo e trampolim ao petista sem voto.
Além das questões de ordem prática, o anúncio da escolha de 2005 como o “ano da eficiência” cria ao Governo uma armadilha de natureza lógica.
Atesta a ineficácia dos anteriores, antecipa a inépcia dos posteriores e não ajuda a criar um cenário positivo para quem precisa convencer o eleitorado das vantagens de escolher por mais quatro anos o mesmo governo.
Aos césares
O freio na reforma foi acompanhado de algumas mudanças nos padrões de relacionamento institucional da Presidência da República. Não significou, porém, o abandono de velhos métodos. Melhor seria dizer que houve uma junção de procedimentos.
Aos diferentes interlocutores, o presidente Lula confere diferentes tratamentos.
Se à ala oposicionista do PMDB interessa a conversa no campo político, com ela trata-se nesses termos do jogo do poder.
Se a outros partidos o que felicita são os cargos, a eles continuam sendo oferecidos os lotes do Estado.
O PTB, por exemplo, foi o primeiro. O presidente da legenda, Roberto Jefferson, deixou de lado o tom crítico para voltar a ser todo elogios ao competentíssimo desempenho governamental, depois que saiu do Palácio do Planalto com a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil e duas diretorias – uma da Petroquisa, outra da Caixa Econômica Federal – debaixo do braço.
O próximo a ser chamado para os devidos acertos será o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto.
Olho nela
No relatório de análise dos dados da última pesquisa sobre candidaturas presidenciais, o Ibope chama atenção para a posição da senadora Heloisa Helena, ex-PT, atual PSOL.
Ela aparece com 3%, em último lugar. Só que integra uma lista onde estão um candidato destacado nas últimas duas eleições, uma delas vitoriosa para a Prefeitura de São Paulo, dois governadores – um de Minas, outro de São Paulo – e dois postulantes ao Palácio do Planalto já em campanha.
Cesar Maia é prefeito do Rio de Janeiro, e Anthony Garotinho, praticamente o governador do estado.
A senadora Heloisa Helena, em termos de estrutura, tem coisa alguma até agora além da manifesta intenção de seus parcos pares de vê-la na disputa em 2006.
É essa desproporção de condições entre a senadora e seus companheiros de lista o que faz o Ibope destacar o desempenho dela na pesquisa.
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