SÃO PAULO - Num dia de 1985, durante a campanha eleitoral pela Prefeitura de São Paulo, um assessor de Jânio Quadros, o ex-presidente que viria a ser o eleito naquele ano, procurou-me na Folha.
"Rossi, eu sei que é difícil, você deve ser bem pago, mas o fato é que o Presidente queria convidá-lo para ser seu assessor de imprensa", disse, meio constrangido. Contrario a regra da Folha e uso "Presidente" com maiúscula, porque é assim que os assessores sempre falam do chefe, escandindo a maiúscula.
Passado o choque inicial, respondi: "Pode roubar?".
Foi a vez de o assessor chocar-se. "Mas como? O Presidente, o homem da vassoura, de jeito nenhum" (Jânio usava, nas suas campanhas, uma vassoura, com a qual, dizia, iria varrer a corrupção. Vê-se, pois, quão antigo é o mal na pátria amada).
"Ah, então não quero", fechei.
O assessor foi embora, certo de que estava diante de um grandíssimo corrupto. Como hoje em dia até piada é preciso explicar, lembro que, nos velhos bons tempos, brincávamos, eu e Ricardo Kotscho, que viria a ser o assessor de imprensa do presidente Lula, com a pergunta: "Corrupção, onde estás que não nos alcanças?".
Ele respondia: "Ninguém vai oferecer corrupção pra gente, com medo de que os denunciemos".
Se é assim ou não, o fato é que nem me deram até hoje a chance de corromper-me. Ou santificar-me.
Mas, passados exatos 20 anos daquele episódio, sou capaz de apostar que, se algum maluco resolver repetir o convite e eu repetir a brincadeira, fecharemos contrato na hora, após alguma discussão sobre porcentagem, quanto fica para quem etc.
Suspeito também que boa parte do público leitor/eleitor concorda comigo. Tanto que o leitor José Roberto Ulian enviou uma, digamos, corruptela de uma frase emblemática da democracia, aquela que diz que "todo poder emana do povo e em seu nome será exercido".
Agora, diz Ulian, deveria ser: "Todo dinheiro emana do povo e em seu nome será desviado".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.