quarta-feira, fevereiro 23, 2005

O DIA Online Dora Kramer Nobres tribunas pobres tribunos

Aproveitando que nutre por eles a mais alta estima, seria o caso de o presidente Luiz Inácio da Silva perguntar aos presidentes da Câmara e do Senado “o que é isso companheiros?”

A indagação teria a finalidade de esclarecer qual a razão de o deputado Severino Cavalcanti e o senador Renan Calheiros usarem as tribunas a que foram alçados como armas de pressão para reivindicar ministérios aos respectivos partidos, o PP e o PMDB.

Sim, porque ou bem pretendem mesmo ganhar mais gabinetes na Esplanada dos Ministérios – e aí não poderiam ter feito a cobrança explícita – ou bem querem apenas usar a força do comando do Parlamento para constranger o presidente da República.

A exigência, ainda mais posta como primeira bandeira de defesa conjunta, obriga o presidente a não fazer rigorosamente nada; o contrário do supostamente pretendido pela dupla dos artífices da coalizão de fancaria que serve de sofisma ao exercício de um fisiologismo quase instintivo de tão primário que se apresenta.

Se desse curso à reforma ministerial agora nos moldes cobrados pelos porta-vozes do Poder Legislativo, o presidente Lula estaria – simbólica e materialmente falando – abrindo mão da prerrogativa de decidir livre de pressões externas e quebrando uma regra celebrada por ele mesmo como um traço inamovível de seu processo de tomada de decisões.

Luiz Inácio da Silva não fará as coisas como acham que podem exigir dele Cavalcanti e Calheiros, asseguram os próximos ao presidente a quem não escapou a tentativa do duo de tirar proveito do momento especialmente ruim das relações entre Executivo e Legislativo.

A confrontação da autoridade do presidente da República não é tática nova entre aliados que julgam perceber na fragilidade política do Planalto uma oportunidade de faturar, lato e estrito senso.

O antecessor de Lula conviveu quase todo o tempo com atitudes desse porte oriundas de políticos formalmente governistas.

Nunca se viu, porém, coação tão açodada, em termos tão diretos, pela voz de ocupantes de tão altos postos. Até o mais persistente praticante de tiro à autoridade presidencial de que se tem notícia, o senador Antonio Carlos Magalhães, tinha seus limites.

Pedir cargos para o PFL da cadeira da presidência do Senado, por exemplo, ACM jamais deu-se a tal falta de respeito.

Aliás, onde já se viu em algum tempo ou lugar presidentes da Câmara e do Senado deixarem de lado a pompa dos cargos para cair na vala comum dos mendicantes? Em geral recebem, não fazem pedidos.

Nesse sentido, pode ser que esta última eleição tenha representado mesmo a ascensão e glória do baixo clero aos píncaros do poder.

Zero a zero

A cada nova crise já virou lugar-comum entre os pemedebistas dizer que a confusão em curso é a “pior já vista” no partido.

Assim os mais antigos no PMDB têm se referido ao impasse na escolha do líder da bancada na Câmara, dada a ausência de um vislumbre sequer de conciliação entre governistas e oposicionistas.

Desde a entrada de Anthony Garotinho no jogo pelo time da oposição, ficou tudo igual em matéria de falta de modos: antes era só o Governo que empregava métodos artificiais de obter vitórias, tais como filiações e sentenças de aluguel.

Agora a briga parece interminável. O Planalto quer um líder submisso à sua vontade – à imagem e semelhança do deputado José Borba – e Garotinho quer no posto ou um servidor fiel da ala oposicionista ou um deputado duro na queda no exercício da pressão.

A cada lista de indicação apresentada à Mesa com o nome preferido de um grupo, o outro reage apresentando outra maior com assinaturas de deputados recrutados à deriva.

Uma votação secreta a ser realizada hoje como proposta de solução, ontem corria risco de não se realizar pois em ambos os grupos havia a disposição de – conforme estivesse a contabilidade – negar quorum à reunião para impedir a vitória do adversário.

Nesse ritmo, o PMDB acaba tendo uma bancada de 300 deputados , não resolve o problema e ainda confere veracidade àquele lema antigo, de novo em moda, do então oposicionista Luiz Inácio da Silva.

Louca escapada

Primeiro o PT adiou a comemoração de seus 25 anos de fevereiro para março, a fim de evitar a coincidência com o aniversário de um ano do escândalo Waldomiro Diniz.

Agora o partido muda a festa de Belo Horizonte para Recife, com medo de possíveis hostilidades mineiras em função do esgarçamento das relações com o deputado Virgílio Guimarães.

A continuar fugindo para resolver problemas, o PT termina clandestino de si mesmo.

Frevo total

Conversa de pernambucanos, ontem, no café da amanhã do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti: “Já temos o Executivo, o Legislativo, falta agora tomarmos conta do Judiciário”, provoca o único conterrâneo não-político da roda.

Para alegria do presidente do PP, Pedro Corrêa, que arredonda no ato a piada: “Por isso não, é só marcar eleição e instituir o voto secreto que a gente ganha lá também!”.

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