sexta-feira, fevereiro 25, 2005

O DIA Online Do limão, um limoeiro Dora Kramer

O PT dá sinais nítidos de que detecta nas exorbitâncias de Severino Cavalcanti uma excelente oportunidade de tirar proveito político da derrota de 10 dias atrás e já anda a fazer por onde marcar a diferença.

O presidente do partido, José Genoino, não achou nada ruim ter sido alvo de dois ou três desaforos por parte do presidente da Câmara, a bancada de deputados fechou questão contra o aumento dos respectivos salários e o presidente da República iniciou a semana chamando Severino de “companheiro”, mas dois dias depois já encaixava num improviso a defesa de salários mais justos para o funcionalismo de um modo em geral e não para as excelências em particular.

Ontem, de novo. Luiz Inácio da Silva teve o esmero de introduzir uma referência ao Legislativo quando falava sobre os “engraçadinhos” que sempre aparecem – “na imprensa, na televisão e até no Congresso Nacional” – para criticar os excessos do Governo no quesito gastos.

Oficialmente, nem um pio se dá a respeito da construção do contraponto ao ponto de o presidente acabar sendo beneficiário do previsto aprofundamento do desgaste do Legislativo na gestão de Severino.

Para todos os efeitos não existe o mais leve vislumbre da mais pálida intenção de fazer qualquer tipo de confronto com o presidente da Câmara.

Mas já se ouve nas conversas de avaliação sobre a extensão do desastre da semana passada que, para o Governo e o para o PT, Severino Cavalcanti pode acabar servindo à perfeição como um dos instrumentos de reconciliação com a base (a social) antiga, a militância tradicional e um fator de aproximação com a opinião pública.

Só o presidente da Câmara e meia dúzia de conselheiros algo delirantes acham que “a sociedade apóia” o reajuste de 67% nos salários dos deputados e mais um bom aumento nas verbas extras dos gabinetes.

Só ele e os arautos especializados em produzir ao poder análises benfazejas – a bom preço – para supor que o personagem vá cair no gosto popular tal tipos folclóricos criados em programas humorísticos de televisão.

Severino pôs na cabeça que tem paralelos arquetípicos com Lula e não serão os bajuladores que lhe dirão ser necessário algo mais que ter nascido em Pernambuco e manter relações distantes com a gramática.

Se não levar o Planalto para o perigoso terreno do confronto com o Parlamento – dos quais nunca se viu um Governo sair vencedor –, o PT desta vez terá farejado com competência o ar em volta e o clima do porvir.

Quanto mais falta de cerimônia com qualquer coisa Severino demonstra, mais desgasta a imagem do Congresso pondo em risco a reeleição de seus pares daqui a dois anos.

Sim, porque, nesse ritmo, a grande obra do presidente da Câmara será o aumento brutal do índice de renovação da Casa em 2006.

Guarida

O presidente da República fala tanto e sobre tão variados temas que acaba banalizando o descalabro. O natural seria tomar como escandalosa a afirmação de Lula de que no início do Governo mandou acobertar casos de corrupção da gestão anterior em nome da preservação da imagem do País.

Segundo ele, recebeu de “um alto companheiro” informações sobre a falência de “uma instituição” por causa de corrupção havida em “algumas privatizações”.

Continuou o presidente, lembrando a orientação dada por ele à época: “Aí para fora você fecha a boca e diga que nossa instituição está preparada para ajudar no desenvolvimento do País”.

Ou seja, se escondeu e compactuou com a corrupção do adversário, lícito supor que, sob a ótica da preservação da imagem do País, o presidente da República admita também resguardar ilícitos de aliados.

Neste ponto reside o caráter escandaloso da declaração. Mas, como o presidente fala tanto e sobre tão variados temas, acaba banalizando o descalabro e a gente chega a duvidar se o relato tem base real, se visa a infamar o antecessor por razões políticas ou se tem objetivo de propor ao PSDB, que agora dirige a Prefeitura de São Paulo, uma troca de gentilezas.

Vantagem em tudo

A bancada petista fez uma ginástica verbal ontem no plenário do Senado, mas conseguiu aprovar a obrigatoriedade de o presidente da República entregar pessoalmente sua mensagem anual ao Congresso sem a possibilidade de os líderes partidários debaterem com ele o conteúdo em plenário.

Quando o senador Eduardo Suplicy apresentou a proposta, em 1999, o PT era favorável a que o presidente pudesse ser interpelado.

Essa adaptação de posições a circunstâncias tem origem no mesmo fenômeno que leva muita gente do PSDB, PMDB e PFL – aliados de Fernando Henrique Cardoso – a defender hoje com veemência o fim da reeleição para presidente.

Por essas e tantas outras homenagens à Lei de Gérson é que no Brasil os princípios não se consolidam e as regras do jogo vivem em processo de mudança permanente.

Algo há

Como é de conhecimento geral, o ministro das Comunicações chama-se Eunício Oliveira e não “Guimarães” como escrito ontem aqui talvez por obra do nelson rodriguiano Sobrenatural de Almeida.

Pior é que foi a segunda vez.

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