SÃO PAULO - Não é para jogar fora liminarmente a tese de Pascal Lamy, um dos cinco candidatos ao posto de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio, segundo quem a Amazônia e as outras florestas tropicais deveriam ser consideradas "bens públicos mundiais" e, como tal, submetidas à gestão coletiva da comunidade internacional, conforme o relato de Assis Moreira para o jornal "Valor Econômico".
Entre os tais "bens públicos mundiais", Lamy inclui, além das florestas tropicais, a água, os recursos da pesca, as rotas marítimas, a camada de ozônio, a segurança dos mercados financeiros e a saúde.
É claro que os nacionalistas de plantão verão na proposta Lamy a mão do imperialismo querendo agarrar a Amazônia. Podem até ter razão, mas, convenhamos, no mundo moderno, restam poucas coisas que são de fato administráveis a partir de decisões puramente nacionais.
As florestas tropicais seriam uma delas, não fosse o fracasso de sucessivos governos brasileiros em cuidar delas devidamente, de que dá prova, coincidentemente, todo o ambiente que envolve o assassinato da missionária norte-americana.
Aí, de duas, uma: ou confessamos de vez que somos incapazes de preservar a floresta e a entregamos a um gestor internacional, ou passamos finalmente a ser sérios e cuidamos direito do que é nosso.
Agora, olhe, leitor, além da floresta, para os outros "bens públicos" listados por Lamy. Não convém a todos que haja segurança nos mercados financeiros? Deixá-los livres e soltos tem levado a uma crise após a outra, como se tem visto desde o colapso asiático de 97/98.
Lamy parece estar falando de "governança global", que, de fato, precisa ser reformulada (ou construída). É o que o atual e o anterior governo defenderam sempre -e fizeram bem. Antes de jogar fora a proposta de Lamy, conviria, pois, pedir mais detalhes, mais precisões. É um tema rico demais para reações simplistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.