Em princípio, suspeitou-se de omissão por parte da União. Mas, conforme a justificativa apresentada ontem mesmo pelo ministério da Justiça, ficamos sabendo que o Governo tomou providências enérgicas: em novembro de 2003 o ministro Márcio Thomaz Bastos esteve no local, acompanhado do procurador-geral da República, Cláudio Fontelles, inteirou-se de tudo e mandou instalar um posto da Polícia Federal em Altamira.
Se não foi, a que outra “política” oficial ambos se referem? Provavelmente à mesma aludida pelo casal Anthony Garotinho e Rosângela Matheus quando usam igual justificativa para “explicar” episódios mais impactantes de insegurança pública no Rio de Janeiro.
No Rio também o governo alega que a bandidagem está apenas reagindo à eficácia do poder público quando põe presídios de segurança máxima de pernas para o ar.
Ora ficaríamos todos muito mais agradecidos pela reverência se governantes não tentassem nos fazer enxergar o que não vemos, vendendo a tese de que malfeitor age mesmo é quando o Estado detém o controle da situação.
Fosse assim, no episódio em curso, a presença do poder público via ocupação militar e mobilização de esforço policial equivaleria à semeadura de uma guerra civil para em breve; não teria resultado no esclarecimento do crime em uma semana. Outros, de gente não notável, permanecem sem solução.
Fiquemos conversados, portanto: no cidadão comum, a mentira varia de grau, pode ir da inconseqüência à psicopatia; no governante, é sempre crime de lesa-pátria porque deforma a relação entre Estado e Sociedade.
A alegação de que a terra sem lei instalou-se no Pará por reação dos fora-da-lei à dura ação dos agentes da lei é tão flagrantemente falsa, que o próprio Governo federal a desmentiu ao anunciar “medidas de emergência” em decorrência do assassinato de Dorothy Stang.
O presidente Lula concluiu o enterro do argumento no discurso em que acusa “madeireiros” pelo crime: “Vamos aproveitar essa desgraça que eles fizeram para moralizar a questão fundiária no Pará e no Brasil”, exortou.
Quis o bom senso que não repetisse o “há males que vêm para o bem” dito quando da morte de 16 pessoas na explosão de um protótipo de satélite na Base de Alcântara em agosto de 2003.
Reconheceu, entretanto, que seu governo agiu em atendimento à urgência do caso e não em acordo à justeza da causa em prol da reinclusão dos territórios de ninguém aos domínios do Estado legal.
Boa vizinhança
O relatório do Ministério Público que aponta o envolvimento de donos de negócios de exploração de madeira ilegal com assassinatos de colonos e tráfico de drogas no Pará cita de forma assertiva a vinculação deles com o deputado Jader Barbalho, do PMDB paraense.
Embora não esclareça a natureza da relação, o documento fala genericamente em “testas-de-ferro”.
Para o governo – especialmente para o PT, a quem quase nada mais parece abalar, como também para o deputado Barbalho, ultimamente bastante cioso na observância da veracidade de informações –, seria assaz importante que tal esclarecimento ocorresse o quanto antes.
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