sexta-feira, fevereiro 18, 2005

O DIA - Dora Kramer Depois do vendaval



Atenuada a euforia dos vencedores, suavizada a comoção dos perdedores, governistas e oposicionistas avaliam erros, dimensionam acertos, refletem, debatem, traçam planos para se precaver de prejuízos futuros oriundos da guerra de quase-extermínio que resultou na eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos Deputados.

A preocupação do PT agora é deixar de lado a dinâmica da luta interna, fazer um balanço correto dos equívocos e conseguir juntar de tal forma os cacos que o Governo possa recompor seu rumo político a tempo de evitar um desastre eleitoral em 2006.

Ao restante do Congresso inquieta a hipótese de o Poder Legislativo desmoralizar-se de vez por causa da eleição de Severino.

Há receio de que as limitações pessoais, políticas e intelectuais de Severino Cavalcanti, sua evidente falta de traquejo para o exercício das funções inerentes ao cargo, acabem por piorar a já complicada relação do Parlamento com a opinião pública.

Apesar das suspeitas em relação a uma possível vingança do Planalto via campanha de desqualificação do Legislativo, cabeças bem pensantes de ambos os lados consideram prudente a decretação oficiosa de um armistício.

Entre petistas, por exemplo, já se considerava ontem uma bobagem o partido ter embarcado na canoa dos senadores José Sarney e Antônio Carlos Magalhães, e tentado uma revanche votando contra o candidato do PFL a vice de Severino, José Thomaz Nonô.

Perdeu de novo, fazendo exatamente o contrário do que o senador Aloizio Mercadante havia aconselhado logo após a derrota de Luiz Eduardo Greenhalgh: “Quando se cai no buraco, a primeira coisa a fazer é parar de cavar”, disse Mercadante.

Esta é uma linha de sensatez que, depois de um primeiro momento de mesquinharias e troca de acusações, começou a prevalecer no PT, embora seja cedo ainda para dizer se vai perdurar.

Enquanto os perdedores vivem as dores do pós-parto, vencedores tratam de tomar tenência para não enfiar os pés pelas mãos e acabar transformando a forra – bem merecida, insistem – no Governo num bumerangue que lhes atinja a nuca mais adiante.

A primeira providência é “blindar” o presidente da Câmara com a estruturação de assessoria de comunicação profissionalizada de forma a impedir, por exemplo, a exposição de Severino Cavalcanti a vexames como o da primeira entrevista coletiva, feita de maneira absolutamente amadora.

A idéia é limitar ao mínimo os movimentos potencialmente prejudiciais, evitando que o presidente vocalize em excesso seu discurso corporativo e dê asas às suas concepções morais reacionárias para que as opiniões dele não sejam confundidas com o pensamento da média do Parlamento.

A fim de se antecipar às críticas, os articuladores da blindagem lembram que o PT adotou a tática com Lula na campanha presidencial e o Governo faz o mesmo preservando o presidente de entrevistas coletivas.

Trata-se, segundo o raciocínio vigente no Congresso, de cuidar da preservação da instituição, cuja representação é exercida por um colegiado de 513 pessoas e não pode ser traduzida na figura de uma só.

Por isso mesmo, a segunda providência é pôr a coletividade para mostrar serviço. Imprimir ritmo mais ágil e operoso nas tramitações, discussões, votações e criar por aí anticorpos e equilibrar a imagem junto à sociedade.

Há atenção também quanto à condução das sessões plenárias, atividade que requer agilidade mental e oral, atributos não disponíveis em altas doses no organismo do presidente Severino. Para contrabalançar, o plano é usar o máximo possível o primeiro vice-presidente, Thomaz Nonô.

Aliás, fala-se claramente em entregar a ele o controle do plenário.

Sim, mas como conter Severino no tocante ao impopularíssimo discurso sobre aumento de salários e concessão de benefícios aos deputados?

Já está sendo explicado a ele que, se extrapolar, vai ter de enfrentar reações. Pelo seguinte: se recebeu votos da porção corporativa da Câmara, os teve também na ala mais comprometida com o voto de opinião e precisará observar limites, ciente de que sua vitória foi fruto de uma circunstância especialíssima, e não resultado de seu prestígio pessoal.

Sempre amigos

Articulação a que se dedica com afinco, o novo presidente do Senado, Renan Calheiros, tenta fazer o deputado Jader Barbalho líder do PMDB na Câmara. Com a anuência da ala palaciana do partido, via Eunício Oliveira, ministro das Comunicações.

Vendem ao Palácio do Planalto a idéia de que Jader tem o apoio do grupo oposicionista e, sendo assim, sua ascensão à liderança com o patrocínio do Governo poderia significar a unificação do partido.

Petistas que nos últimos dias têm conversado com pemedebistas de oposição correram ontem a avisar a quem interessar possa que a tese não procede.

Ao contrário, provoca desconforto geral. Considera-se inacreditável que, depois de todos os reveses decorrentes de equívocos recentes, o Governo esteja ainda disposto a cometer mais um, associando-se ao movimento de revisão biográfica de Jader Barbalho enquanto seus infortúnios policiais ainda são uma obra em aberto.

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