Garotinho no alvo, Rio em alta
O inimigo n 1 do Planalto hoje se chama Anthony Garotinho. Depois das últimas diabruras e do mau comportamento no PMDB e na Câmara, então, fulminar o ex-governador virou prioridade por lá — até porque o governo acredita que ele será adversário de Lula em 2006.
É por aí que, após longo e tenebroso inverno, o Rio começa a ser mais bem tratado. E deve ter até um novo ministério em breve.
As iniciativas do pacote Rio devem se multiplicar a partir de agora. Hoje, por exemplo, o presidente Lula anuncia a um grupo de prefeitos da Baixada Fluminense liderados por Lindberg Farias, de Nova Iguaçu, o plano de saneamento básico para seus municípios. Não por acaso, redutos de Garotinho.
Um projeto mais amplo de investimentos na região também está sendo elaborado sob a coordenação do ministro José Dirceu — coincidência ou não, um daqueles governistas que, depois das últimas peripécias, adorariam devorar o fígado do ex-governador e de sua turma.
O detalhe dessa operação é que não haverá declaração de guerra aberta a Garotinho ou Rosinha. O governo federal não vai excluir dos investimentos e programas nenhum prefeito a eles ligado. Quer fortalecer as administrações amigas de Lindberg, Godofredo Pinto (Niterói) e outros. Deseja manter boas relações com Cesar Maia, uma aliança estratégica em potencial contra a família Matheus. Mas pretende, sobretudo, comer o mingau de Garotinho pelas beiradas, trazendo seus prefeitos ao Planalto para receber verbas e favores. Tudo com a marca do governo federal.
Paralelamente, pode sair na reforma ministerial um novo ministério para o Rio, sub-representado no paulistério depois da saída de Miro Teixeira e Benedita da Silva do primeiro escalão. Seria mais um sinal político de valorização do estado do que um manancial de verbas.
Nomes já começam a circular e, apesar de a tendência de Lula na reforma ser reduzir os espaços do PT em favor dos aliados, os palacianos acham que, para a pasta do Rio, o nome mais forte ainda é o do petista Jorge Bittar. O endereço, o Ministério do Planejamento. Não se descarta, porém, a hipótese de alguma outra aliança política no estado envolvendo o primeiro escalão. É bom lembrar que o PP de Severino Cavalcanti tem raízes sólidas no estado e nomes como Francisco Dornelles, por exemplo.
Qualquer que seja o lado para onde o vento venha a soprar, contudo, o fato é que o Rio entrou no topo da agenda política do governo do PT. A derrota na eleição na capital, a crise do PT local, o comportamento de Garotinho e a falta de perspectiva eleitoral no estado acenderam a luz vermelha. É preciso crescer e abrir espaço — ainda que a bordo de uma aliança — para a reeleição de Lula no terceiro colégio eleitoral do país.
Até porque o cenário que se desenha para 2006 no estado parece hoje amplamente desfavorável ao Planalto. De um lado, devem estar as forças de Garotinho — candidato à Presidência até por falta de outra opção — numa fortíssima chapa com o senador peemedebista Sérgio Cabral como candidato a governador e a atual governadora Rosinha para o Senado. Contrapondo-se a eles, o pefelista Cesar Maia, numa candidatura também com ares de imbatível. O prefeito do Rio se declara candidato à Presidência, mas nove entre dez políticos acham que ele está jogando para governador.
Pode ser. O fato é que, nesse cenário, será reduzidíssimo o espaço do PT e de seus aliados se não começarem a trabalhar logo. O ingresso do deputado Miro Teixeira no partido, esta semana, foi mais um lance do jogo. Além de alternativa eleitoral, o ex-ministro pode agregar no campo das articulações. Já está se entendendo com o PT local para elaboração de um programa para o estado. A partir dele, vai procurar outras forças e tentar viabilizar uma ampla aliança.
O eleitor do Rio é um sofredor calejado. E, do jeito que as coisas são em política, só vendo para crer.
Não chega também a ser gratificante — nem tampouco edificante para o governo — perceber que iniciativas federais para beneficiar o estado ocorrem no rastro da disputa política entre o Planalto e os Garotinho. Ideal seria que Lula e petistas tivessem, enfim, feito a autocrítica e reconhecido que chegou a hora de quebrar o “sãopaulocentrismo” que marca o governo desde o primeiro dia. Mas é a tal história: a cavalo dado, não se olha os dentes. Se é para ajudar, que venha logo.
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