A má educação
SÃO PAULO - Robert J. Shiller, autor do livro "Exuberância Irracional", ensina economia, em especial mercados financeiros, na mitológica Yale há exatos 20 anos.
Ontem, no jornal "The New York Times", lamentou que "a visão de mundo que as pessoas obtêm em uma moderna escola de negócios pode levar a uma desconexão ética". Pudica expressão essa.
Na verdade, Shiller quer dizer, como explicita depois, que os currículos de matemática financeira ensinam cada indivíduo a "maximizar os próprios ganhos esperados".
"Espera-se que as pessoas sejam totalmente egoístas, constantemente calculando suas próprias vantagens, sem pensar nos outros. Se a premissa é a de que todo mundo roubaria a prataria se soubesse que conseguiria sair com ela (...), é difícil saber quando começar a falar sobre ética."
Não é mera coincidência qualquer semelhança com a brasileira e folclórica Lei de Gerson (lembra-se? É aquela do anúncio de cigarro em que o ex-jogador diz que o bom é "levar vantagem em tudo").
Para Shiller, os escândalos corporativos ocorridos nos anos recentes, em especial nos Estados Unidos, são produto desse, digamos, currículo não-escrito das escolas de negócio.
Bom, agora transponha esse vício de origem ao fato de que boa parte dos economistas brasileiros de maior presença na mídia foi educada nos Estados Unidos. Em especial, os economistas das instituições financeiras que os jornalistas tomam, acriticamente, como gurus infalíveis, exatamente o oposto do que são.
Aí, você tem dois fenômenos acoplados, ambos negativos: primeiro, o fato de que a maior parte desse pessoal engole o que é ensinado em escolas estrangeiras como as tábuas da lei, sem a menor vontade (ou capacidade) de pensar por conta própria. Engole, pois, essa "desconexão ética". Depois, volta para aplicar o aprendido em cima da bugrada pela qual não tem o menor respeito, por se sentir superior.
Dá para revogar a Lei de Gerson nesse tipo de ambiente?
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