Folha de S.Paulo - Editoriais: A "NOVA" EUROPA> - 10/02/2005

A "NOVA" EUROPA

Como se sabe , as relações franco-americanas se deterioraram profundamente com a invasão do Iraque comandada pelos Estados Unidos. Ao lado dos russos e alemães, os franceses se opuseram de maneira enfática à operação militar, temendo os efeitos do unilateralismo de Washington. Passado o período crítico, as desavenças vão agora dando lugar ao entendimento.
A recondução de George W. Bush à Casa Branca criou um fato consumado -a necessidade de conviver com o presidente norte-americano por mais quatro anos- e as eleições no Iraque serviram para tornar mais palatável a reaproximação.
Por pragmatismo ou em nome de afinidades políticas com longas raízes históricas, o fato é que os EUA e a "velha Europa" -assim designada, com ironia, pelo secretário da Defesa, Donald Rumsfeld- vão trabalhando em prol de formas mais amistosas de convivência.
Preparando a próxima viagem de Bush à Europa, a nova secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, esteve em Paris e referiu-se às divergências como um episódio do passado. Segundo Rice, hoje as prioridades de norte-americanos e europeus seriam a expansão mundial da democracia e o combate ao terrorismo.
É uma linguagem distante daquela utilizada pela própria Rice, que, como conselheira de segurança da Casa Branca, sugeriu que os EUA deveriam "punir a França, ignorar a Alemanha e perdoar a Rússia".
Selando a nova fase, o ministro das Relações Exteriores da França, Michel Bernier, declarou que "o mundo vai melhor quando os EUA e a Europa cooperam e trabalham juntos".
Embora a posição da França e da Alemanha, contrária à invasão do Iraque, fosse a mais sensata, o roteiro que o episódio seguiu, de resto previsível, ilustra as hesitações da União Européia, suas dificuldades de intervir de maneira unificada na cena internacional e a sua subordinação, em que pesem os esforços retóricos, aos desígnios de Washington.