domingo, fevereiro 20, 2005

FOLHA ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES Ignorânciaou má-fé!

Quando o Protocolo de Kyoto foi assinado, em 1997, escrevi nesta coluna: "Kyoto vai marcar época. Daqui para a frente, cada país terá de fazer a sua lição de casa, ficando claro que a maior responsabilidade está com os países do Primeiro Mundo" ("Kyoto é o óbvio ululante", Opinião, pág. A2, 7/12/1997).
Para entrar em vigor, o protocolo exigia a adesão de países que, somados, respondem por 55% do total de gás carbônico emitido no mundo. Isso ocorreu no final de 2004 e, por isso, o protocolo entrou em vigor na última quarta-feira. Durante o período 2008-2012, os 141 países signatários terão de reduzir em 5% a quantidade de gás carbônico que emitiram em 1990.
O mundo emite anualmente 23 bilhões de toneladas de gás carbônico. Isso significa que são emitidas cerca de 700 toneladas de gás carbônico a cada segundo!
São números estonteantes e que deveriam abalar os países que mais poluem. Mas a situação é inversa. Os que mais sujam o mundo gostam de pôr a culpa nos países emergentes e, gratuitamente, fazem uma pontaria no Brasil, como se tivéssemos grande responsabilidade nesse campo.
Os Estados Unidos emitem 26% do gás carbônico mundial, e a União Européia, outros 15%. E o Brasil? Nossa emissão é de apenas 1,5%.
A maior parte da poluição dos países ricos provém do uso intensivo de carvão e de outros combustíveis fósseis (subsidiados com US$ 120 bilhões anuais). Os Estados Unidos e a China, sozinhos, queimam quase 50% do carvão mundial. Eles, juntamente com a União Européia, são os maiores responsáveis pelo aquecimento do planeta, pelo derretimento das geleiras, pelo aumento de enchentes e pelas dificuldades da agricultura.
Os Estados Unidos não aderiram ao Protocolo de Kyoto. É lá e na União Européia que as ONGs mais criticam o Brasil. Elas deveriam primeiro limpar a sua própria casa antes de culpar o Brasil, que tem mais de 60% da sua energia proveniente de fontes limpas, em especial da água e da biomassa.
É bom lembrar que, na reunião de Johannesburgo, em 2002, o Brasil propôs o uso obrigatório de, no mínimo, 10% de fontes energéticas não-poluentes. A proposta foi rejeitada pelos países ricos. Mas não foi uma derrota. Aquilo serviu para derrubar a máscara dos que nos atacam por ignorância ou má-fé.
Por isso, as comemorações que marcaram a implantação do Protocolo de Kyoto deveriam ter lançado uma palavra de reparação das injustiças e das acusações cínicas que as ONGs e muitos governos de países adiantados vivem repetindo contra o Brasil.
Enfim, a largada foi dada. Os 141 países terão de apresentar bons resultados até 2012. Oxalá as coisas ocorram como o previsto e que o mundo venha a ser aliviado da poluição que tanto prejudica a humanidade, esperando, ainda, que os Estados Unidos, a União Européia e a China -os maiores poluidores do mundo- se alinhem ao esforço geral.
Nesse ínterim, caberia ao Brasil melhorar substancialmente a sua comunicação para demonstrar ao mundo que este país é limpo e constitui uma das mais preciosas paragens para produzir muito e sujar pouco.

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