sábado, fevereiro 19, 2005

Folha 19 02 2005 CLÓVIS ROSSI

Está esquentando, sim
SÃO PAULO -
Entrou finalmente em vigor o Protocolo de Kyoto, desenhado para tentar evitar o aquecimento global provocado pelo chamado efeito estufa.
Soaram os merecidos clarins, espoucaram as devidas champanhes, mas, de volta ao mundo real e cruel, tem-se que os Estados Unidos, o maior emissor de gases que provocam o efeito estufa, continua fora do tratado. Tem-se igualmente o aviso da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo): com ou sem Kyoto, o cartel terá de produzir o máximo que puder no próximo inverno (no hemisfério Norte) para atender o pantagruélico apetite da China, entre outros países.
Ou, posto de outra forma: considerações de ordem econômica, por legítimas que possam ser, continuam predominando sobre o respeito ao meio ambiente.
No caso dos Estados Unidos, conter as emissões significaria gastos formidáveis para as empresas. No caso da China, significaria conter também o crescimento econômico acelerado das duas décadas mais recentes, que transformaram o país no espanto do mundo.
Em grande medida, essa visão de curto prazo amparava-se na suposição de que os estudos sobre mudança climática eram inconclusivos.
Esse argumento, que já era precário, ruiu de vez agora durante o encontro anual da Associação Americana para o Progresso da Ciência, informa a agência Reuters.
Um estudo da Scripps, instituto oceanográfico dos EUA, mediu a temperatura dos oceanos, em vez de olhar para a atmosfera, e concluiu: "Não há a menor margem para dúvida sobre o degelo do Ártico e sobre o fato de que o clima vai sofrer", diz Tim Barnett, da Scripps.
Mais: "O debate sobre se há ou não aquecimento global acabou, ao menos para pessoas racionais".
É torcer agora para que o presidente Bush se inclua entre tais pessoas e, tal como se especula, anuncie um novo enfoque sobre a questão na visita que fará terça-feira a Bruxelas, a capital européia.