terça-feira, agosto 17, 2004

DORA KRAMER 17 08 2004 Debate regional, resultado nacional

Três partidos, três situações diferentes, três opiniões coincidentes: Geraldo Alckmin (PSDB), Marta Suplicy (PT) e César Maia (PFL) consideram inúteis quaisquer tentativas de dirigir o interesse do eleitorado municipal para a discussão da política nacional.
Mas, embora concordem que os eleitores preferem os temas locais, os três constatam: o debate é regional, mas o resultado das urnas de outubro terá impacto político nacional. Apesar disso, na opinião deles não conviria o traçado de linhas muito retas entre as eleições deste ano e a disputa presidencial de 2006.
Cada um vive uma circunstância específica, o que reduz o índice de contaminação de suas análises pela bactéria da causa própria.
Dos três, o prefeito do Rio de Janeiro, com a reeleição já quase assegurada, é o único a estabelecer alguma relação de causa e efeito mais firme entre eleições de prefeitos, governadores e presidente.
Ainda assim, César Maia limita essa ligação ao aspecto da estrutura partidária, na medida em que quanto mais prefeitos os partidos elegerem agora, mais cabos eleitorais qualificados terão nas disputas estaduais e federal de daqui a dois anos.
A prefeita de São Paulo - envolvida em duro combate pela conquista do segundo mandato - e o governador do Estado - candidato preferencial da oposição para 2006 e hoje empenhado na eleição do adversário de Marta, José Serra - não vêem transferências automáticas de resultados nem consideram a sucessão presidencial um tema adequado para agora.
''Isso encurta o mandato do governante e dificulta a governabilidade porque alimenta e aumenta as divergências'', avalia Geraldo Alckmin, fervoroso adepto da tese de que, também em matéria de eleição, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
''A repercussão política levará em conta o resultado das grandes cidades agora, mas, nem por isso, necessariamente uma será conseqüência da outra'', diz Alckmin, lembrando uma disputa particularmente infeliz para o seu partido.
Foi em 1992, quando o PSDB ficou em quarto lugar; Paulo Maluf ganhou no segundo turno de Eduardo Suplicy. ''Dois anos depois, o PSDB elegeu Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno'', aponta o governador.
Sim, mas na ocasião o país virou de cabeça para baixo. Houve o impeachment de Fernando Collor e, depois, o Plano Real.
Pois é justamente pela possibilidade de mudanças radicais em todos os cenários que, principalmente Marta e Alckmin, envolvidos no embate que renderá mais desdobramentos, preferem não misturar o local com o nacional nem pôr o carro de 2006 à frente dos bois de 2004.
No caso da ofensiva pró-campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio da Silva, ensaiada na semana passada por poderosa ala do cardinalato petista, Marta Suplicy não alimenta a discussão. Atribui as declarações a ''entusiasmo de comício'' e avalia que não há nelas estratégia eleitoral.
Dependesse só dela, a prefeita preferiria falar das coisas da cidade durante a campanha - ''quero mostrar o que fiz'' - mas, se ao partido de alguma forma interessar a nacionalização do debate, não vê nisso prejuízo para si. Conforme for, ao contrário. ''Claro que quando a avaliação sobre o governo federal melhora, isso me ajuda''.
Já o tema 2006, quando posto ao meio da roda, não faz muito o gosto de Marta. A prefeita anda dando graças a Deus que pararam de lhe perguntar por toda parte se vai ou não concorrer ao governo de São Paulo e, se ganhar agora, deixar a prefeitura antes da primeira metade do segundo mandato.
''Nem vai ser necessário, o que não falta ao PT são candidatos ao governo'', diz, numa referência à extensa lista de petistas de primeiro time aspirantes ao Palácio dos Bandeirantes.
Mas, como ainda está para nascer quem verá Marta abrindo mão da sua parte, ela vai logo avisando: ''Se eu ganhar agora, vou é ser uma grande eleitora para quem quiser se eleger governador''.
Peso e medida
Pode-se dizer o que for a respeito das alas radicais ainda radicadas no PT, menos que não tenham lá seus limites. Localizados, aliás, na fronteira de seus interesses eleitorais.
Na campanha presidencial de 2002, a esquerda petista não fez exortações partidárias à coerência com o passado, para não atrapalhar a eleição de Lula. Agora, os rebeldes da entressafra eleitoral de novo suspendem as críticas, para não pôr em risco a eleição dos companheiros candidatos a prefeitos e vereadores.
Quanto à coerência, como se vê, não há desacordo nas internas do PT.
dkramer@jb.com.br
[17/AGO/2004]
Publicadoem: Tue, Aug 17 2004 12:18 AM

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