sábado, fevereiro 21, 2009

O impacto da desaceleração numa economia

Quando a economia desacelera

O PIB brasileiro cresceu 5% ao ano no último biênio. Para 2009,
a previsão (otimista) é de avançar 1,5%. A freada é brusca, uma
perda de 70% na velocidade. Se foi uma Ferrari em 2007 e 2008,
a economia virou um Fusca em 2009


Giuliano Guandalini

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Quadro: Os efeitos da desaceleração

Depois de dois anos de crescimento vigoroso, com expansão superior a 5% ao ano, o PIB brasileiro não deverá avançar mais do que 1,5% em 2009. É como estacionar um carro de Fórmula 1, capaz de alcançar a velocidade máxima de 315 quilômetros por hora no final da reta oposta no circuito de Interlagos, e assumir o volante de um Fusca, que mal consegue atingir 100 quilômetros por hora. Essa desaceleração é dramática para os países, mas apenas um incômodo para a economia familiar e a das empresas. Alguns motivos:

novas dívidas da família (por exemplo, para trocar de carro) são postergadas até que o salário volte a crescer;

gastos prescindíveis (como uma viagem à Europa, idas ao cinema ou a compra de um televisor de plasma) podem ser adiados ou cortados pela metade.

Uma reprogramação no orçamento permite a rápida adequação das contas familiares ao novo cenário, sem sacrificar gastos essenciais como o aluguel ou a educação dos filhos. O mesmo vale para uma empresa. Se a expansão de seu faturamento perder 70% da velocidade, uma companhia terá à mão ferramentas gerenciais que lhe permitirão cruzar a fase de aperto sem maiores apuros. Algumas estratégias:

investimentos em novas linhas de produção ficam em suspenso até que a economia recupere tração;

a jornada de trabalho é reduzida, para que a oferta de mercadorias se ajuste à queda na demanda.

Já no caso de um país, enfrentar uma redução de marcha nessas proporções traz desafios profundos, afetando o bem-estar da população. O PIB precisa crescer ao menos 4% para criar os empregos necessários à acomodação do 1,4 milhão de pessoas que ingressam no mercado de trabalho a cada ano. Em 2009, no entanto, não mais do que 480 000 postos deverão ser abertos. Crescer apenas 1,5% significa também que a renda per capita ficará estagnada. Quando a economia avança 5% ao ano, o PIB por habitante aumenta de fato 3,5%, porque há que descontar o crescimento populacional (em torno de 1,5% ao ano). Ao ritmo de 3,5%, o Brasil levaria três décadas para alcançar a renda média de um país desenvolvido. Mas, sem avanço nenhum, como se estima que ocorrerá neste ano, o Brasil nunca chegará ao Primeiro Mundo. Por isso, o Fusca precisa voltar a ser um Fórmula 1 quanto antes.