domingo, outubro 28, 2007

Nada muda nem na China nem aqui

Alberto Tamer


Nada mudou para o Brasil ou para o mundo após a reunião qüinqüenal do Partido Comunista da China. Lá, tudo vai continuar como está, com a manutenção do regime totalitário. Há, na China, 37 jornalistas presos, além de outros tantos que usavam o sistema de blog para se intercomunicarem.

O colega chinês do The New York Times ficou 3 anos preso porque cometeu o crime de dizer que havia rumores no partido de que o Hu Jintao estava pensando em se aposentar. Na China, isso é "crime contra a segurança nacional".

Em seu discurso de duas horas e meia, Hu Jintao falou 61 vezes a palavra democracia, mais ou menos o mesmo número de citações em seu discurso de 2002. E ele continuará por mais 5 anos no poder. Ninguém no partido pensa em reforma política ou administrativa, apenas em crescimento com autoritarismo e repressão. A a economia seguirá sustentada pelas exportações, que chegam a US$ 1 trilhão, já que não se pode contar com um aumento significativo do consumo interno; ele continua limitado a 300 milhões ou 400 milhões de pessoas que moram nas cidades ou arredores, de um total de 1.3 bilhão de habitantes. Destes, 800 milhões mourejam no campo.

REAÇÕES CONTRADITÓRIAS

A China vai continuar provocando as mesmas reações contraditórias sobre a economia mundial. De um lado, ajuda a conter a inflação mundial em torno de 2,5% e 3%, ao exportar produtos a preços baixos; de outro, provoca um aumento expressivo nas cotações dos produtos agrícolas e matérias-primas, que, voraz, absorve em volumes crescentes. No fundo, esses efeitos passam a ter um papel secundário quando comparados com o peso de uma economia que avança a 11,3% no trimestre - o maior crescimento desde 1993 - , o que vem sustentando o crescimento mundial.

BRASIL FAVORECIDO, MAS...

Para nós, o que predomina é exatamente o aumento dessas importações de matérias-primas e produtos agropecuários, setores que lideramos no mundo e aos quais devemos a expansão da economia nacional.

Mas, se de um lado exportamos muito produtos primários agrícolas e minerais para a China, de outro ela nos rouba mercado interno com seus preços baixos, e avança sobre nós no mercado externo. Estudo da Fiesp obtido por Marcelo Rehder, do Estado, mostra que no ano passado perdemos para os chineses algo em torno de US$ 1 bilhão no mercado americano. Nossas exportações para os EUA continuam minguando, recuaram para US$ 11,8 bilhões, até setembro, num mercado que importa cerca de US$ 2 trilhões.

O presidente, num humor meio sem graça, fala em nos voltarmos para a África e o Oriente Médio, já que competir nos EUA é mais difícil... Melhor teria sido mandar analisar o que está acontecendo e ver o que se pode fazer para reverter esse cenário negativo. Depois vamos pensar na África...

ELES ESTÃO INVESTINDO

Se o presidente fizesse isso, veria que, se não podemos competir muito no comércio mundial, podemos, isto sim, atrair investimentos chineses. Eles criaram um fundo soberano de US$ 200 bilhões para investir no exterior parte de suas reservas de US$ 1,4 trilhão. Estão indo para o mundo todo primeiro com os seus produtos, e agora com o dinheiro.

Deveríamos analisar imediatamente projetos que podem atrair recursos chineses, já que são grandes importadores de produtos primários e agrícolas do Brasil. Temos aí o etanol, os alcooldutos, que já interessam aos japoneses, enfim, uma série de oportunidades inexploradas. Se o ministro encarregado dessa área - quem é? o de Desenvolvimento, o das Relações Exteriores, do Planejamento, quem sabe quem está encarregado disso? - tivesse a mínima curiosidade de ver a tabela do Banco Centra descobriria que a China é uma investidora ainda por conquistar.

Se não podemos competir com os chineses no comercio mundial podemos, isto sim, atrair uma parte de dos US$ 200 bilhões das suas reservas de US$ 1,4 trilhão que estão investindo no exterior.

Mas, o que vemos? Estamos anunciando estudos para criar o nosso próprio "fundo soberano" usando o "excedente" das nossas "gigantescas" reservas de US$ 160 bilhões! Quem sabe é para e roubar oportunidades de investimentos dos chineses.... Ora, ora, pois então não é para rir?