sábado, julho 29, 2006

VEJA A guerra eleitoral na internet

Mais que um
santinho eletrônico

A guerra eleitoral já começou na
internet. E em alta temperatura


Marcelo Marthe


André Nazareth/Strana
Cesar Maia em ação com seu laptop: a disputa eleitoral em ebulição na internet



Na semana passada, o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, foi vítima da ação de hackers. Circulou pela rede uma versão falsificada de seu Ex-Blog – espécie de diário remetido pelo político aos cadastrados em seu site. A mensagem continha denúncias sobre sua administração e supostos planos do prefeito para atacar adversários políticos, tudo conforme e-mails que teriam sido trocados entre Maia e seus correligionários – e que os hackers teriam obtido. Maia tornou-se protagonista desse caso por ser um entusiasta da internet. Ele é um pioneiro no uso da rede como ferramenta administrativa e nas batalhas políticas. Até o fim do ano passado, manteve um diário eletrônico concorrido. Por considerar que a página o estava absorvendo demais, passou a editá-la sob a forma do Ex-Blog. O episódio da semana passada dá uma idéia da temperatura que a disputa eleitoral pode atingir na internet nos próximos meses. "Com a proibição de cartazes, outdoors e showmícios, a internet virou um canal estratégico para os candidatos fazerem campanha, no bom e no mau sentido", diz o cientista político Rubens Figueiredo.

A rede está livre da maior parte das restrições que pesam sobre a propaganda nos demais meios de comunicação. Um blog petista em apoio à reeleição do presidente Lula traz, por exemplo, vídeos vetados no horário partidário na TV pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A internet tem, ainda, a vantagem de ser uma ferramenta barata. "Ela eliminou os dois grandes gargalos financeiros das campanhas: imprimir e distribuir material", diz o especialista em marketing político Marco Iten. A rede é um bom meio para atingir o público jovem, fatia que ajuda decisivamente na propagação de informações pelo boca-a-boca. A campanha da senadora Heloísa Helena à Presidência dispõe de recursos limitados (o site de seu partido, o PSOL, é tão precário que até pouco tempo atrás nem sequer mencionava sua candidatura). Mas seus partidários vêm driblando isso com a veiculação de filmetes de propaganda no site de vídeos YouTube. Outro campo de batalha é o Orkut. Na rede de relacionamentos, comunidades pró e contra os candidatos medem suas forças. Até a semana passada, a maior brigada pró-Lula ostentava menos pessoas do que o grupo auto-intitulado "Eu odeio o Lula", com 48.000 membros.

O número de participantes nas comunidades do Orkut serve como lembrete de que a internet ainda tem penetração limitada no Brasil. Enquanto cerca de 30 milhões assistem ao programa eleitoral gratuito na televisão, um blog político bem-sucedido como o de Cesar Maia tem público médio de 30.000 pessoas. Mas as informações e opiniões ali veiculadas podem repercutir – e incomodar. Na quinta-feira passada, por determinação de uma juíza eleitoral do Mato Grosso, a senadora petista Serys Slhessarenko, suspeita de envolvimento no escândalo dos sanguessugas, ganhou um direito de resposta no blog do jornalista Ricardo Noblat. Os estragos causados pela guerrilha política via internet podem perturbar mais ainda. Intimamente ligado à polêmica sobre os e-mails de Cesar Maia, por exemplo, está o blog Pero Vaz de Caminha, mantido por simpatizantes do prefeito, cuja função básica é lançar provocações ao candidato do PMDB ao governo carioca, Sérgio Cabral Filho. Para livrar-se de seus ataques, Cabral acionou a Justiça Eleitoral, que proibiu a veiculação da página (mas ela continuava na rede até a sexta 28). Em reportagem publicada na semana passada pela revista Veja Rio, que circula com VEJA no Rio de Janeiro, Maia admitiu que alimenta a equipe do Pero Vaz de Caminha com informações. O blog é feito por partidários do prefeito abrigados numa certa JCM – sigla que seus coordenadores definem como Juventude Cesar Maia, mas o próprio prefere chamar de Juventude Cidade Maravilhosa. "Insisto: não criei e não administro o blog. Apenas repasso as dezenas de notas que me chegam, sem nem sequer fazer edição", diz o prefeito.

Na versão pirata do Ex-Blog de Cesar Maia que circulou na semana passada, uma mensagem que seria de autoria do político e uma página de internet anexada a ela indicariam que ele é de fato o mentor de todos os ataques realizados contra Sérgio Cabral. Os hackers que clonaram o Ex-Blog divulgaram, ainda, trechos de um diálogo que demonstraria a existência de uma funcionária-fantasma recebendo vencimentos da Secretaria de Saúde carioca. "Bola n'água", diz o prefeito. "Ela está há mais de um ano de licença e sem vencimentos." Em outros e-mails, sugere-se que ele e seus aliados planejaram formas pouco lisonjeiras de atingir Denise Frossard, candidata ao governo do Rio pelo PPS e a quem Maia hoje apóia. Maia afirma que a violação de sua correspondência teria partido de "hackers-policiais" (da Polícia Civil carioca, aponta ele) a serviço de "alguém importante do PMDB". No momento, o caso é investigado pela Polícia Federal. Apesar de tudo, Cesar Maia não pretende reduzir o seu uso da internet. "Esse é meu meio de comunicação", afirma. E cada vez mais políticos vão se juntar a ele.

Com reportagem de Anna Carolina Mello