quarta-feira, março 29, 2006

Lulinha está lá, sim

PRIMEIRA LEITURA
 
 Lulinha está lá, sim
Por Renato Andrade

Verdade 1: o nome de Fábio Luiz Lula da Silva, filho mais velho do presidente da República, não consta do relatório final da CPI dos Correios.

Verdade 2: todos os detalhes – conhecidos – sobre as negociações envolvendo a Telemar, uma concessionária de serviço público, com a empresa de Lulinha estão no relatório.

Verdade 3: o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) não se furtou a pedir ao Ministério Público uma investigação ampla dos negócios milionários que beneficiaram "um dos filhos do presidente da República", sem que até hoje se conheçam os retornos para a empresa de telefonia.

Diante destes fatos, fica difícil afirmar que o Palácio do Planalto saiu "vitorioso" na questão.

Entre as tantas histórias mal contadas do governo Lula, a dos investimentos da Telemar na GameCorp S/A, empresa de Lulinha, é até agora a mais nebulosa. Desafia o raciocínio lógico dos negócios e abre espaço para as diversas questões que foram colocadas no relatório da Comissão.

A Telemar investiu R$ 5 milhões na GameCorp no ano passado, empresa que produz e fornece material de informática para aparelhos de telefonia celular. Investirá outros R$ 5 milhões neste ano. Somente essas informações já suscitariam questionamentos.

Mas o problema maior é que a Telemar tem como sócios o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras, a Petros, e o maior fundo da América Latina, a Previ, entidade de previdência privada dos funcionários do Banco do Brasil. Juntos, esses dois fundos detêm 19,9% da empresa de telefonia. Por meio dessa participação, esses mesmos fundos controlam 3,66% da holding do Grupo Telemar, a Tele Norte Leste Participações S/A.

As suspeições sobre o interesse da Telemar em investir R$ 10 milhões em uma empresa absolutamente desconhecida saltam aos olhos. Serraglio ainda pondera outras questões que rondam estes negócios. "Uma pergunta se impõe: foram, de alguma forma os fundos de pensão acionistas da Telemar, lesados pelos negócios realizados com a empresa GameCorp?", questiona Serraglio.

O relator sabe que não cabe à CPI responder a essa pergunta, mas repassará aos órgãos responsáveis por investigações desse calibre todas as dúvidas que precisam ser esclarecidas. "Sem dúvida, cabe ao Ministério Público angariar novas informações e esclarecer a nação sobre esta questão delicada", recomenda o relatório.

Serraglio propõe até algumas das perguntas que precisam ser feitas e respondidas pelo Ministério Público:

• Saber se o preço convencionado foi ou não justo;

• Se estava ou não dentro dos padrões de mercado;

• Saber se outra empresa do mesmo setor pagaria ou não o que a Telemar pagou.

"São questões fundamentais para a formação de um juízo de valor sobre a decisão desta empresa de telefonia", pondera Serraglio.

A não-inclusão do nome de Fábio Luiz Lula da Silva no relatório final da CPI dos Correios é um detalhe sem importância. O que vale é o pedido formal de investigação do caso. À Comissão não cabe investigar ou punir negócios escusos, mas indicar às autoridades que investigações são necessárias. Serraglio cumpriu seu papel.

[renatoandrade@primeiraleitura.com.br]
Publicado em 29 de março de 2006.