quarta-feira, março 18, 2015

Dilma olha para frente ao apoiar ajuste na economia - Jornal O Globo

Dilma olha para frente ao apoiar ajuste na economia - Jornal O Globo

Dilma olha para frente ao apoiar ajuste na economia

Ainda que não chegue a admitir que parte considerável do que o Brasil hoje enfrenta na esfera econômica se deva a políticas equivocadas adotadas por ela própria em seu primeiro mandato, a presidente Dilma passou a fazer um discurso em favor do ajuste fiscal e da correção de rumos em outras áreas, o que é importante para que tal mudança venha a obter êxito. O ajuste já está em curso, com cortes de gastos de custeio, aumento de tributos e até de medidas de caráter estrutural (no caso da previdência social), com efeito mais a médio e longo prazos.
A reconhecida competência e a credibilidade do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e de sua equipe não eram vistas pelos mercados como suficientes para assegurar a execução do ajuste, pois a presidente Dilma não parecia completamente convencida da necessidade dessa mudança. No entanto, agora a presidente vem a público defender com ênfase a política da sua nova equipe econômica, reconhecendo que o país não reagiu ao que anteriormente fora posto em prática. Numa autocrítica modesta, porém inédita, Dilma falou em erros de dosagem, esgotamento da capacidade das medidas anticíclicas, etc. Ao menos isso afasta o receio dos mercados de que haja um retrocesso no ajuste, pois a presidente agora até recorre aos argumentos que associam esse caminho à chance de uma reação mais rápida da economia.
Sem o engajamento pessoal da presidente nesse processo certamente seria mais difícil para o governo arregimentar o apoio político indispensável para que o ajuste prossiga, já que várias decisões tomadas precisam do endosso do Congresso Nacional. Como resposta às grandes manifestações de domingo último, a presidente se disse aberta ao diálogo. De fato, se, no seu primeiro mandato, estivesse com essa disposição, ouvindo mais as críticas, muitos dos equívocos poderiam ter sido evitados. A Petrobras talvez não chegasse a uma situação financeira tão constrangedora, o setor elétrico teria se preparado mais para enfrentar as consequências negativas da crise hídrica, a indústria como um todo estaria mais fortalecida para enfrentar a competição, e nem se adotaria uma política monetária mais restritiva para enfrentar a pressão inflacionária represada artificialmente pelo governo.
Ao justificar os equívocos cometidos, a presidente afirma que evitou a quebradeira de empresas e a eliminação de milhões de empregos, como aconteceu em outras economias afetadas pela crise internacional. Paciência. Talvez seja querer muito que a presidente venha a admitir que seu segundo mandato está corrigindo problemas herdados do primeiro. O mais importante é que Dilma passou a olhar para frente com uma visão distinta, apoiando o que precisa ser feito. Para o bem do país e não apenas do seu governo.


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