segunda-feira, julho 21, 2014

Diferenças nos programas - Opinião - Estadão

Diferenças nos programas - Opinião - Estadão

Diferenças nos programas

O Estado de S.Paulo

21 Julho 2014 | 02h 04

Ao registrar as suas candidaturas no TSE, os candidatos a cargo executivo devem protocolar os seus respectivos programas de governo. Habitualmente, tais documentos - que poderiam servir como base para um sério debate eleitoral - estão no plano das aspirações, e não de propostas efetivas com as quais os candidatos se comprometem. Este ano, diante do cenário econômico precário, o comércio exterior ganhou relevância, e sobre este tema é possível vislumbrar diferenças entre os três principais candidatos à Presidência da República.

Dilma Rousseff, candidata à reeleição pela coligação Mais mudanças, mais futuro, afirma que "a prioridade à América do Sul, América Latina e Caribe se traduzirá no empenho em fortalecer o Mercosul, a Unasul e a Comunidade dos Países da América Latina e Caribe (Celac), sem discriminação de ordem ideológica. (...) Da mesma forma se dará ênfase a nossas relações com a África, com os países asiáticos - a China é nosso principal parceiro comercial - e com o mundo árabe". Discorre ainda sobre a grande relevância do "nosso relacionamento com os Estados Unidos, por sua importância econômica, política, científica e tecnológica, sem falar no volume de nosso comércio bilateral. Critério semelhante é válido para nossas relações com a União Europeia e com o Japão".

Em resumo, ao propor Um novo ciclo histórico - assim se denomina o tópico das propostas da candidata Dilma -, pretende-se fazer mais do mesmo. Revela teimosia ideológica na "integração Sul-Sul" e, com as outras regiões, que venha o que vier. Se a proposta é fazer mais do mesmo, como resultado só se deve esperar mais do mesmo.

Aécio Neves, candidato pela coligação Muda Brasil, fala da necessidade de promover "uma crescente integração do Brasil no comércio internacional". Entre outras medidas, propõe a "conclusão das negociações comerciais, em curso, com a União Europeia, sendo o bloco o principal mercado para as exportações brasileiras", e menciona o lançamento das bases para "um acordo preferencial com os Estados Unidos, mercado tradicionalmente relevante para as exportações de manufaturados brasileiros". No tópico sobre política externa, promete um "reexame das políticas seguidas no tocante à integração regional para, com a liderança do Brasil, restabelecer a primazia da liberalização comercial e o aprofundamento dos acordos vigentes e para, em relação ao Mercosul, paralisado e sem estratégia, recuperar seus objetivos iniciais e flexibilizar suas regras a fim de poder avançar nas negociações com terceiros países".

Eduardo Campos, candidato pela coligação Unidos pelo Brasil, havia afirmado, em evento ocorrido em junho na Câmara Americana de Comércio (Amcham), que era favorável à flexibilização do Mercosul, para o Brasil voltar a negociar acordos de comércio com outros parceiros de forma independente. No entanto, no seu programa de governo não consta nenhuma proposta relativa ao bloco sul-americano. Diz apenas que as medidas econômicas propostas "devem conduzir o Brasil à maturidade econômica que se exige da 6.ª economia do mundo, mudando fortemente o eixo das relações comerciais do Brasil com o resto do mundo". E em relação à agropecuária, promete "fortalecer acordos comerciais bilaterais com parceiros estratégicos".

Como se observa, as propostas dos candidatos da oposição reconhecem uma realidade muito sentida pela economia brasileira nos últimos anos: o Mercosul não está funcionando. E já que não é possível andar para a frente, pois a Argentina bloqueia as negociações, é preciso rever os passos dados. O status de união aduaneira do bloco não condiz com a realidade, muito menos com os interesses do País. Um possível caminho seria o retorno ao status de zona de livre-comércio, permitindo negociação direta do Brasil com outros parceiros comerciais, livre do excessivo protecionismo argentino.

A retórica da "integração Sul-Sul" é ideológica - se fosse apenas "geográfica" seria, na melhor das hipóteses, um nonsense - e vem acarretando sérios prejuízos ao Brasil, já que na prática leva o País a se fechar aos parceiros comerciais relevantes, quando o momento exige o oposto. Que os eleitores tenham em conta essas diferenças.



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