O GLOBO - 25/03
O
grave disso tudo é que se estabelece relação direta entre a farra de
interferências políticas na estatal e perdas bilionárias em certos
negócios
A aberração das cifras em torno da compra de uma
refinaria em Pasadena, Texas, junto à empresa belga Astra, era
conhecida. A história ganhou outra dimensão, e gigantesca, com a
iniciativa da presidente Dilma Rousseff de redigir nota de próprio punho
para explicar que aprovou a exótica operação, em 2006, quando estava à
frente do conselho de administração da Petrobras, com base num sumário
“técnica e juridicamente falho” feito pelo diretor da área internacional
da empresa, Nestor Cerveró.A decisão da presidente ajudou a iluminar
facetas obscuras do estilo de administração do ramo lulopetista que
passou a controlar a estatal a partir de 2003. Uma delas, o
apadrinhamento de políticos e partidos a diretores, mesmo em áreas
técnicas.
O fato de Cerveró, embora sob críticas da então
ministra-chefe da Casa Civil e futura indicada a suceder Lula no
Planalto, sobreviver na estatal — foi transferido para a diretoria
financeira BR Distribuidora, cargo também de confiança — se deve, vê-se
hoje com clareza, ao fato de ter sido ungido pela dupla de senadores
Renan Calheiros (PMDB-AL) e Delcídio do Amaral (PT-MS), embora os dois
procurem hoje apagar aquela indicação dos currículos.
Mas
persistem pontos de interrogação sobre o intenso tráfico de influências
na estatal. Preso pela Polícia Federal, numa investigação sobre lavagem
pesada de dinheiro, o ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, é
outro caso idêntico. Teria obtido a proteção do PMDB e PP. O grave
disso tudo é que se estabelece relação direta entre a farra de
interferências políticas na Petrobras e perdas bilionárias em certos
negócios, com gritantes indícios de superfaturamento.
Presidente
da estatal em boa parte daquele período, José Sérgio Gabrielli se
apressou a fazer reparos a Dilma e explicar que uma das cláusulas do
contrato de compra da refinaria que a presidente criticara, a put
option, segundo a qual o sócio em divergência com o outro compra a parte
deste, é usual no mercado. Mas como explicar o fato de uma refinaria
comprada pelos belgas por US$ 42,5 milhões custar não muito depois US$
1,2 bilhão, mesmo considerando a elevação do preço do petróleo no
mercado internacional?
E parece haver uma sucessão de maus
negócios fechados pela estatal naqueles tempos. Neste fim de semana, O
GLOBO trouxe a história de outra compra nebulosa de refinaria, esta no
Japão: a Petrobras pagou por ela, em 2008, US$ 71 milhões, já teria
gastado US$ 200 milhões, e tenta repassá-la adiante. Mas a última oferta
obtida foi de US$ 150 milhões. Importante: negócio fechado na gestão
Gabrielli, com Cerveró e Paulo Roberto Costa na empresa.
Há
indícios demais de práticas pouco sérias na administração da estatal de
2003 em diante para que não sejam investigadas com o devido rigor, em
nome de um mínimo de ética na gestão pública.