FOLHA DE SP - 13/12
RIO
DE JANEIRO - Calma no Brasil. Só porque o Uruguai acaba de legalizar a
produção, o consumo e a distribuição de maconha, ainda não é o caso de
os adeptos brasileiros se mandarem em massa para Montevidéu. Ao entrar
em vigência, a lei incluirá toda uma liturgia jurídica. Entre outras
normas, o consumo pessoal será limitado a 40 gramas por mês e somente
para uruguaios ou residentes maiores de 18 anos. Os quais terão de
adquiri-la em farmácias autorizadas --será que exigirão receita?--, e
não no seu velho e confiável fornecedor.
As pessoas poderão
plantá-la, mas só serão permitidos seis pés por cidadão. Ou se associar a
"clubes de cultivo", em grupos de 15 a 40 membros por clube. Todas as
etapas serão reguladas pelo Estado e significarão um cadastramento
monstro de produtores, usuários e locais para se consumir a erva. Por
sorte, os uruguaios, em sua maioria, se conhecem uns aos outros, de
vista ou pelo nome.
Quarenta gramas, dizem minhas fontes, rendem
cerca de 50 baseados. Serão suficientes para um mês? Há quem fume isso
por semana. Imagino que, na falta e na fissura, o cidadão baterá à porta
da vizinha e pedirá alguns miligramas emprestado, como os caretas pedem
uma xícara de açúcar. Falando em caretas, a ideia de se associar a
clubes não terá um quê de Rotary ou Lions, incompatível com o mito da
liberdade e da rebeldia associado ao fumo?
E, por falar em fumo,
logo agora que se descobriu que o cigarro é um veneno e ficou proibido
fumar em quase toda parte, vai-se poder fumar maconha em qualquer
recinto? E o fumacê sobre os fumantes passivos?
Por fim,
sabendo-se que, a depender da potência, a maconha provoca alteração de
consciência e uma certa dificuldade motora, será permitido dirigir sob o
seu efeito? Haverá algum controle tipo Lei Seca? Ou o Estado se
responsabilizará também pelos acidentes?