FOLHA DE SP - 06/12
Política quente resulta em guilhotina, linchamento, suicídio, paredão ou condenação ao atraso
Atentemos
para o país que está à volta da Papuda, ou acabaremos reféns daquele
Nosferatu, o morto-vivo que insiste em roubar nosso vigor, nosso tempo e
o espaço do colunista. Por mim, ele trabalharia é no "Hotel
Califórnia", o da lendária música dos Eagles, onde se pode entrar, mas
não sair. Mas nada de certos aromas densos... Quem não conhece a canção
tem agora a chance. Essa é do baú. Coisa de velho, meninos! Adiante.
O
autor destas mal traçadas ficará feliz se estiver errado. Avalia que a
presidente Dilma Rousseff vai se reeleger no ano que vem. Como não vê
vantagem em confundir seu gosto pessoal (não votará nela de jeito
nenhum!) com os fatos, escreve o que acha. A razão de seu realismo,
nunca de seu desencanto, é que não acredita em candidatura de oposição
sem valores de oposição.
Segundo pesquisa Datafolha, publicada
por esta Folha no domingo, no cenário mais provável, se a disputa fosse
hoje, Dilma seria reeleita no primeiro turno, com 47% dos votos. Aécio
Neves ficaria em segundo, com 19%. Em terceiro, viria Eduardo Campos,
com 11%. Há, como sempre, tempo o bastante para o inesperado, mas ele é
insuficiente para plasmar uma nova esperança.
Que nova esperança?
Em todo o mundo democrático, pobre ou rico, partidos da direita
democrática, mais conservadores ou menos, disputam o poder e são
bem-sucedidos. Depois de algum tempo, perdem para os "progressistas",
que serão apeados mais adiante. A democracia não é finalista. Seu fim é
uma economia dos meios. É modorrenta e fria. Política quente resulta em
guilhotina, linchamento, suicídio, paredão ou condenação ao atraso
eterno. A democracia é o regime dos homens aborrecidos. Também é coisa
de velho. Por que nós a queremos? Para mantê-la.
O Brasil insiste
em ser a exceção. A elite intelectual e a imprensa não sabem ou fingem
não saber --pouco importa se é burrice ou má-fé-- a diferença entre
direita democrática e extrema direita. Sufocam o debate com sua
ignorância bem-intencionada, com sua má-fé ignorante e, às vezes, até
com seu humor iletrado.
Extrema-esquerda e esquerda divergem nos
métodos, não na ambição de subordinar a sociedade a um ente de razão
que, num primeiro momento, a domine e, depois, a substitua, pouco
importando se pensam num partido ou num conselho de sábios. Já a extrema
direita é o avesso da direita democrática; a diferença é de essência,
não de grau, como já demonstrou Olavo de Carvalho. Isso é história, não
opinião. Procurem os respectivos manifestos dos vários fascismos do
século passado. Seu verdadeiro inimigo é o liberalismo, não o comunismo,
no qual os fascistas sempre reconheceram o queixo de papai...
"Direita", no entanto, virou palavrão no Brasil. Na academia, o
liberalismo é tratado como sinônimo de exclusão social.
Ocorre
que a maioria da população, já evidenciou o Datafolha, se identifica
mais com valores ditos de "direita" do que de "esquerda". Mas inexistem
por aqui os republicanos, os conservadores ou os democratas-cristãos. As
referências de progresso social e político de alguns dos nossos
intelectuais não são os EUA, a Grã-Bretanha ou a Alemanha, mas a
Venezuela, o Equador e Cuba.
Há muito tempo a oposição é
prisioneira dessa falácia e não só evita o confronto de valores como
aceita que o PT seja o seu juiz ideológico. Ao disputar o poder,
perde-se num administrativismo etéreo. Alguns cronistas, achando que a
rendição é insuficiente, recomendam-lhe que vá ainda mais para a
esquerda e tente tomar do PT a bandeira do distributivismo da pobreza.
Seria seu último suspiro.
"Você reclama do quê? O modelo
funciona!" Quem dera! Teríamos ao menos uma escola melhor do que a do
Cazaquistão. Mas ela é pior.
Direita já! Em nome do futuro.