O Estado de S.Paulo - 27/12
O
ano de 2013 começou com boas perspectivas para a Petrobrás. Após um
difícil 2012, quando a empresa chegou a registrar prejuízo trimestral e
queda de 2% na produção de petróleo, com relação a 2011, a expectativa
era de que o processo de manutenção das plataformas fosse finalizado, ao
longo do ano, e a produção começasse a mostrar sinais de inflexão.
Do
ponto de vista da política de preços, os reajustes concedidos no início
do ano davam a esperança de que a defasagem dos preços seria menor do
que em 2012. Em 30 de janeiro, o preço de venda na refinaria da gasolina
teve um reajuste de 6,6% e o óleo diesel de 5,4%, nesta data, e de 5%
em março. Também trouxe alívio nas importações de gasolina a decisão de
voltar a aumentar a mistura de etanol anidro para 25%, a partir de maio.
Esse conjunto de medidas reforçou a visão de que a nova gestão da
empresa havia conseguido sensibilizar o acionista majoritário, ou seja, o
governo, com relação à necessidade de se recuperar o caixa da empresa
e, com isso, garantir a execução do plano de negócios da estatal.
No
segundo trimestre a desvalorização do real teve impacto direto sobre a
empresa, tanto no que diz respeito ao aumento da defasagem dos
combustíveis quanto pelo efeito sobre a dívida em dólares da empresa. No
primeiro caso, em vez de reagir com um realinhamento de preços, a
empresa adotou a estratégia única de desinvestir para reforçar o seu
caixa, como, por exemplo, a venda dos 50% dos seus ativos de exploração e
produção de óleo e gás no continente africano. Quanto à deterioração da
dívida, a empresa se utilizou de "contabilidade criativa", adotando
critérios de contabilidade de hedge, que permite a não contabilização do
efeito cambial da dívida por causa da perspectiva de exportações
futuras. Cabe ressaltar que atualmente a empresa é importadora líquida, o
que gerou desconfiança com relação aos novos critérios contábeis.
No
terceiro trimestre, com medo de perder o controle da inflação e com a
queda da popularidade do governo no rastro dos protestos, a empresa
novamente foi sacrificada, permanecendo todo o trimestre sem um reajuste
nos preços, o que fez com que a defasagem média da gasolina se situasse
em 21,2% e a do diesel em 21,9%, no terceiro trimestre. Com isso, a
geração de caixa da empresa ficou comprometida e, como não houve venda
de ativos de valor expressivo e nenhuma nova solução criativa, o
resultado ficou bem abaixo do esperado pelo mercado.
Com o
objetivo de reverter o péssimo resultado, a Petrobrás divulgou fato
relevante sobre a criação de uma fórmula que garantiria reajustes
automáticos para o preço da gasolina e do diesel e o alinhamento com os
preços internacionais. A reação do mercado foi de forte alta das ações,
em cerca de 8%, por causa da crença de que a proximidade entre a
presidente da Petrobrás, Graça Foster, e a presidente Dilma seria
determinante para a mudança na política de preços.
A surpresa foi
o debate público entre a presidente da empresa e o ministro da Fazenda
sobre a necessidade da existência de uma fórmula, que acabou promovendo
um sobe e desce das ações da estatal. O resultado foi só decepção com o
anúncio de que a fórmula de reajuste permaneceria secreta e não
garantiria reajuste automático. E, de novo, na tentativa de criar um
fato positivo, foi concedido reajuste de 4% para a gasolina e de 8% para
o diesel, abaixo da expectativa do mercado. Ao fim desse episódio,
ficou claro que a Petrobrás continuará a ser usada para controlar a
inflação, ajudar nas eleições ou salvar leilões que não atraem players
suficientes.
Para 2014, só restará à empresa e aos seus
acionistas torcer para que a conjuntura não prejudique ainda mais as
contas da Petrobrás. Nesse sentido, resta torcer para que o câmbio fique
estável, o petróleo não suba, a inflação permaneça controlada e a
popularidade da presidente Dilma continue elevada. Todos fatores
exógenos à direção da empresa. Como se tem dito no mercado, com muita
propriedade: te vejo em 2015, torcendo por uma mudança de governo.