Um relatório original, escrito em inglês, sobre a formação de cartéis em fornecimentos da Siemens para diversas áreas da administração pública em diversos Estados do Brasil, inclusive no setor metroviário em São Paulo, foi entregue por um ex-executivo da empresa à sua direção geral no exterior. Ele não trouxe qualquer citação ao PSDB ou a nomes de parlamentares tucanos. No entanto, uma cópia dele, em versão para o português, foi divulgada com diversas citações que não fazem parte do original. Ou seja, a versão foi forjada, dando origem a um documento falso entregue à imprensa e que consta no processo aberto pela Polícia Federal.
O Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, recebeu os textos das mãos do deputado estadual do PT, Simão Pedro e, sem maiores cautelas, o encaminhou à Polícia Federal, há vários meses. Daí alguém vazou a versão falsa e os nomes de várias pessoas foram enxovalhados para gáudio da turma do mensalão.
Pois é. Bastou os mensaleiros irem para a cadeia para o PT ressuscitar seus velhos e espúrios métodos de luta política. Nesta guerra, a arma mais comum é a difamação, a manipulação e a produção em série de dossiês fajutos. Aconteceu novamente agora, com o agravante de que, desta vez, quem está à frente das aloprações é nada menos que o Ministro da Justiça.
O PT parece ter visto na investigação da denúncia de prática de cartel em concorrências para obras de expansão da rede metroferroviária em São Paulo uma oportunidade para tentar envolver seus maiores adversários políticos na mesma lama em que o partido chafurda. Para tanto, botou suas engrenagens em ação e envolveu o aparato estatal na luta política.
Diz o Ministro que o deputado petista lhe entregou em sua casa o material. Simão Pedro já vem, há tempos, fazendo hora extra com o tal alemão da Siemens, dele obtendo informações e denúncias que vinha levando ao Ministério Público que está fazendo as investigações. Pelo jeito, não satisfeito com os resultados, resolveu levar o papelucho ao Ministro que ajudou a montar essa presepada passando a ser partícipe ou cabeça dela.
O curioso é que o suposto autor do papelucho diz desconhecer seu conteúdo e até refuta as acusações que supostamente constam do "documento". Ontem o PSDB mostrou que Cardozo deu guarida a um papel fraudado que sequer correspondia à fiel tradução do original, com a inclusão criminosa de nomes que simplesmente não constavam da versão em inglês. É o PT exercitando sua conhecida má-fé – ou, quem sabe, a "criatividade" que se tornou marca do partido até nas contas públicas do país…
Tratando-se do PT, faz todo sentido que assim seja. Seu propósito é cristalino: tumultuar, mais uma vez, o ambiente político, desviar o foco do escândalo do mensalão e dos mensaleiros petistas presos no presídio da Papuda, na capital federal, e tentar fazer crer à população que todos se igualam no lodo do submundo da política.
Nós queremos que as investigações, sérias e responsáveis, sejam feitas, apurando os contratos em todo o Brasil, incluindo as empresas federais que compram equipamentos das empresas denunciadas. Neste sentido, é necessário também apurar suspeitas similares que pairam sobre contratos firmados pela CBTU, empresa federal vinculada ao Ministério das Cidades, para reforma de trens em Porto Alegre e Belo Horizonte, conforme a Polícia Federal e o Ministério Público Federal anunciaram em agosto, mas até agora não se sabe no que deu.
O PT é useiro e vezeiro nesse tipo de operação. Ele se assemelha com episódios anteriores: a falsificação de documentos por aloprados na campanha de 2006, o chamado dossiê Cayman, a "lista de Furnas" e a criminosa quebra de sigilo de tucanos na campanha presidencial de 2010.
Que se apure a fundo todas as denúncias, mas que se deixe de lado o uso espúrio do aparato estatal do PT para fazer disputa política.
Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB