POLÍTICA
Visões para o futuro
Merval Pereira, O Globo
O presidente a ser eleito em 2014 já pode contar com um roteiro básico sobre os caminhos a serem percorridos para que o país volte a ter desenvolvimento econômico sustentado, focado em políticas voltadas para a produtividade e a competitividade, para retomar uma expansão anual ao ritmo de 4%.
Os economistas Fabio Giambiagi (BNDES) e Claudio Porto (consultoria Macroplan) organizaram o livro “Propostas para o Governo 2015-2018 — Agenda para um País Próspero e Competitivo” (editora Elsevier), com análises e sugestões de políticas e iniciativas de interesse público de 40 especialistas.
Embora apontando os riscos para a economia, os coordenadores evitaram o pessimismo, substituindo-o pela indicação de saídas para situações que persistem no país, em busca de caminhos que possam reforçar a estabilidade macroeconômica: condução mais firme da política fiscal e do aprimoramento do combate à inflação; aumento de investimentos em infraestrutura; elevação da poupança doméstica — com destaque para a poupança pública — e melhoria acelerada de qualidade da educação.
O principal desafio do futuro governo no campo da economia está em elevar a produtividade, segundo os organizadores, que têm um consenso: será fundamental haver liderança política e melhoria da qualidade e solidez das instituições: “Quando conduzido por lideranças com visão de futuro e suportado por instituições confiáveis, os consensos são consolidados na sociedade, e os problemas podem ser superados”, conclui Claudio Porto.
O livro parte da visão de que o Brasil apenas “flertou” com o desenvolvimento sustentado, mas não deu o passo decisivo, suficiente para conduzir o país a um patamar mais elevado. Fez também menos que o mínimo necessário para se preparar para uma melhor inserção em um mundo crescentemente competitivo.
Fabio Giambiagi — em coautoria com Marcelo Kfoury Muinhos — destaca em seu artigo a visão que turva algumas das análises sobre o país: o mito de que o Brasil seguirá crescendo nos mesmos patamares da última década, quando o cenário internacional foi generosamente favorável ao país.
E sublinha que, mais recentemente, o Brasil vem colecionando uma galeria de más notícias, como baixas taxas de investimento e poupança doméstica, investimento público insuficiente, forte crescimento do gasto de custeio público, elevada carga tributária e crescimento do produto potencial inferior às necessidades de crescimento mais intenso.
O economista Claudio Porto, que assina outro artigo do livro em coautoria com Adriana Fontes, alerta que, nas condições atuais, o conceito de desenvolvimento não pode mais estar restrito ao crescimento econômico puro e simples.
A qualidade do desenvolvimento, segundo ele, tornou-se proeminente e deve ser medida por critérios abrangentes, incorporando aspectos sociais (como a qualidade de vida da população, os níveis de inclusão e distribuição de renda) e a preservação ambiental (com destaque para o uso e a preservação adequada dos recursos da natureza).
Os sinais de gargalos e desequilíbrio que acendem a luz amarela para o Brasil são listados pelos organizadores e extravasam as razões da crise internacional. Partem da inflação, elevada para padrões mundiais, e da baixa produtividade do trabalho, cerca de 20% do americano.
Também destacam o grau de abertura do Brasil, um dos menores do mundo: a soma das exportações e importações de bens é da ordem de grandeza de 20 % do PIB, enquanto na China é 70% e no Chile, 80%.
Os autores alertam ainda que o país já se ressente da ausência de um maior esforço e atenção em Educação ao longo de várias décadas. A qualidade do ensino ainda está em um patamar inaceitavelmente baixo. Entre nações emergentes, o Brasil é um dos piores na proporção da população adulta com educação secundária.
O governo a ser eleito em 2014 terá ainda que solucionar um dos mais urgentes temas atuais: a escassez de mão de obra qualificada. A taxa de graduados em engenharia no Brasil é de somente dois por dez mil habitantes, metade da taxa do Chile.
E mais: a taxa de crescimento da população em idade ativa está em declínio, e daqui a 20 anos o contingente absoluto desse grupo etário começará a encolher, o que se tornará um constrangimento sério para o crescimento econômico futuro.
PS: Dou uma folga aos leitores. A coluna volta a ser publicada em 5 de novembro.