sexta-feira, abril 12, 2013

Fevereiro magro - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 12/04


A queda das vendas do comércio em fevereiro mostra que não se pode subestimar o efeito da inflação sobre o nível de atividade. Os economistas de mercado previam alta em torno de 1,5%. Houve retração de 0,4%. Foi uma surpresa, mas ao mesmo tempo já se sabe que assim é a economia: a inflação reduz capacidade de compra e afeta a atividade.

Por isso é tão ultrapassada a ideia de que não podem ser usadas políticas anti-inflacionárias que derrubem o crescimento. A inflação, por si só, derruba. No dado de ontem, o setor de supermercados caiu 1% em relação a janeiro e 2,1% sobre fevereiro de 2012, e o principal motivo é a inflação de alimentos. Na indústria, o mês de fevereiro foi de queda forte, -2,5%.

O Banco Central divulga hoje seu indicador de atividade, IBC-Br, e o número deve vir negativo, revertendo a alta de janeiro e confirmando assim o fevereiro magro. O primeiro mês do ano foi bom, e o segundo, ruim. Os economistas esperam que março seja positivo e o PIB do primeiro trimestre termine com um crescimento em torno de 1%, o que seria um ótimo resultado.

A grande dificuldade será manter essa taxa nos trimestres seguintes, para garantir um PIB acima de 3%, que compense o fraco desempenho de 2012. Nos dois primeiros meses do ano, houve aumento de bens de capital puxado por eventos bem específicos: venda de caminhões e de colheitadeiras, por causa da supersafra. Isso não deve ser repetir ao longo do ano.

O economista da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas, Roque Pellizzaro Júnior, diz que há fatores conjunturais e outros estruturais para explicar o desempenho mais fraco do varejo em fevereiro. Este ano, houve reajuste menor do salário mínimo, a inflação está elevada, assim como a inadimplência e o endividamento das famílias. Essas são dificuldades que vão nos acompanhar ao longo do ano. Por outro lado, houve fatores momentâneos, como venda menor de bebidas no carnaval e antecipação de compras de eletrodomésticos, em dezembro, com a ameaça de aumento do IPI.

- A inflação é uma doença crônica, que a gente no início não nota, mas que vai pouco a pouco incomodando. De repente, quando menos se espera, causa um problema mais sério - disse.

É que, além de afetar diretamente na perda da capacidade de compra, a inflação vai elevando o medo do consumidor de se comprometer com novos gastos e faltar para o essencial. Isso é que é perigoso numa conjuntura como a atual.

O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco avaliou que o consumo das famílias neste início de ano foi mais fraco que o esperado porque a renda cresceu menos, houve desempenho menos favorável do mercado de trabalho e a inflação dos alimentos foi forte. O banco previa alta de 1,5% do comércio no mês. A mediana do mercado era de 1,6%. Deu queda de 0,4%.

A Abrasce prevê abertura de 45 novos shoppings este ano e isso deve garantir um crescimento da receita de 13%. Haverá mais lojas em funcionamento. A superintendente da entidade, Adriana Colloca, explica que os shoppings se diferenciam do resto do varejo porque também oferecem serviços:

- No bimestre, tivemos crescimento de 3,4%, com alta de 10% nos 12 meses até fevereiro. Como os shoppings, além de lojas, também oferecem serviços de vários tipos, uma coisa acaba compensando a outra.

O economista-chefe da CNC, Calor Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, também culpa a inflação pela queda do comércio em fevereiro, pelo seu impacto sobre o setor de supermercados. Ele defende elevação da taxa de juros para combater a alta dos preços e restabelecer a confiança na economia.

Mas o dilema do BC será como subir os juros com indústria e varejo em queda.