terça-feira, fevereiro 19, 2013

A morte de Lyra e a “topada” de Dilma, por Vitor Hugo Soares

Blog Noblat

Um sábio chinês disse no passado: "Há indivíduos cuja morte pesa menos que uma pena para a humanidade. Há outros, porém, cujo desaparecimento tem o peso de toneladas".

Este pensamento oriental segue atualíssimo. Para comprovar, basta olhar ao redor no Brasil e no resto do planeta. Em sua segunda parte, se encaixa com perfeição ao perfil e à história política e humana do ex-parlamentar e ex-ministro da Justiça, Fernando Lyra.

Um brasileiro exemplar, nascido em Pernambuco, que morreu quinta-feira, 14, depois de largo e complicado período de internamento em hospitais de Recife e São Paulo.

Muitos conheceram Fernando (assim ouvi muitas vezes o ex-deputado Chico Pinto chamar com afeto e admiração o amigo e companheiro de grandes combates no extinto MDB). Outros com ele conviveram mais prolongada e intensamente.

Alguns irão, seguramente, falar sobre esta figura humana verdadeiramente plural e admirável, como definiu em linhas brilhantes e emocionadas o senador do PDT e conterrâneo, Cristóvão Buarque, no artigo publicado no Blog do Noblat.

Preciso esclarecer e contextualizar este escrito. Nasci no lado baiano do Rio São Francisco. Passei a infância e parte da juventude em cidades de onde podia ver Pernambuco (e ouvir através das ondas potentes da Radio Jornal do Comércio, falando para o mundo) na outra margem do rio da minha aldeia.

Por sentimento, verdade e reconhecimento pessoal e profissional, não me sentiria bem se deixasse de fazer este registro póstumo.

Afinal, além do destemido e digno combatente político contra a ditadura durante décadas, foi Fernando Lyra quem ao chegar ao poder, na condição de ministro da Justiça, por escolha de Tancredo Neves, aplicou o golpe mortal na censura que durante décadas amordaçou a imprensa e a liberdade de expressão no Brasil.

Portanto, sem poder me considerar seu amigo, como sempre almejei, segui de perto a sua palavra ardente e seus discursos candentes. Testemunhei exemplos e ações. Acompanhei o bom combate de Fernando Lyra.

Jornalista profissional (chefiando durante quase duas décadas primeiro a redação, depois a sucursal do Jornal do Brasil em Salvador), amigo pessoal do ex-prefeito de Feira de Santana e ex-deputado Chico Pinto (outro símbolo autêntico da resistência no velho MDB de Ulysses e Tancredo), não raramente estive ao lado do grande político pernambucano.

Principalmente quando de suas frequentes visitas a Salvador e Feira da Santana, onde ele sempre foi admirado, aplaudido e considerado grande amigo da Bahia.

Algumas vezes participei diretamente de seu combate contra a violência e a intolerância. Até na cela de um quartel do Exército, em Salvador, passei temporada por causa disso.

Sinto honra e orgulho de poder falar destas coisas e sobre este homem de combate permanente na construção da democracia em seu país, mas que nunca deixou de sorrir, sempre manteve incrível bom humor nos palanques e na vida. Morre sem perder a ternura, jamais.

Na nota oficial de governo sobre a morte de Fernando Lyra, a presidente Dilma Rousseff assinala: "a democracia brasileira perdeu um de seus mais expressivos defensores".

Linhas adiante, destaca: "Primeiro ministro da Justiça da redemocratização, Lyra foi o responsável pelo fim da censura oficial, passo fundamental na conquista da liberdade de expressão no País".

Mais da nota: "Exímio articulador político, Fernando Lyra foi um dos expoentes da formação da Aliança Democrática. Teve atuação relevante na Assembléia Nacional Constituinte e representou com brilho os eleitores de Pernambuco na Câmara dos Deputados por 28 anos".

E a conclusão da mensagem assinada por Dilma Rousseff: "Em nome de todas as brasileiras e de todos os brasileiros, apresento meus votos de pesar a sua mulher, Márcia, suas três filhas, familiares e amigos, neste momento de dor".

O sábio chinês citado no começo deste artigo sintetizaria: "Um peso sem tamanho, o da perda de Fernando".

EM TEMPO: Antes de receber a notícia da morte de Fernando Lyra, iniciei este artigo com a intenção de falar sobe "as últimas da presidente Dilma na Bahia", e contar que não foi sem tropeços a mais recente temporada de repouso da presidente da República no privilegiado cenário cinematográfico onde fica situada a Base Naval de Aratu.

Principalmente depois dela sofrer a "topada" que lhe fissurou o dedo grande do pé, logo em seguida à sua chegada à magnífica praia de Inema, na sexta-feira da semana passada.

O assunto, mantido no título, fica para ser tratado depois. Se ainda houver atualidade. E sentido.

 

Vitor Hugo Soares é jornalista. E-mailvitor_soares1@terra.com.br