REVISTA VEJA
O crescimento decorre de três causas: a expansão do investimento (capital), a incorporação de mão de obra e a produtividade. Essa última reflete a forma como as duas outras se combinam na produção de bens e serviços. A produtividade — que também determina a competitividade — resulta do avanço tecnológico e da eficiência. No longo prazo, a produtividade é o principal motor. Antes da crise, ela explicava 80% do crescimento da economia americana.
Poderíamos crescer mais elevando o investimento, ora em 19% do PIB (49% do PIB na China e perto de 25% do PIB nos países sul-americanos citados). Seria preciso ampliar muito a poupança doméstica, o que é impossível nos próximos anos. Recorrer à poupança externa, como já o fazemos, tem limites. Tampouco há sobra de trabalhadores. Resta elevar a produtividade.
Vejamos as fontes da produtividade. Progresso técnico leva tempo. Poderíamos queimar etapas abrindo mais a economia, porém o governo caminha na direção oposta. Ampliar a produtividade da mão de obra requer dotá-la de maior qualificação, mas isso depende da educação. Mesmo que ocorresse uma revolução, melhorias na educação levam vinte ou mais anos para dar resultados. As empresas podem aumentar a eficiência, mas a carga tributária vai continuar confusa e custosa. O mesmo se dirá da anacrônica legislação trabalhista.
A única alternativa no curto prazo seria direcionar investimentos para a infraestrutura, fundamental para melhorar a logística de transportes. O Brasil investia mais de 5% do PIB no setor nos anos 1970. Hoje, mal chega a 2% do PIB. Daí as estradas esburacadas, os aeroportos congestionados, a ineficiência nas ferrovias e a incrível demora em atracar um navio nos portos importantes.
Vários estudos evidenciam a importância decisiva da infraestrutura, por seu efeito na produtividade e nos níveis de bem-estar. Com transportes mais eficientes, por exemplo, o custo de produção e comercialização cai, os aeroportos funcionam, a segurança e o conforto das viagens aumentam, as estradas matam menos e as empresas não esperam meses para receber mercadorias nos portos. O país cresce mais. No Brasil, a perda da capacidade de investir do setor público recomenda recorrer ao setor privado. Incrivelmente, isso não foi considerado na maior parte do governo Lula, embotado pela pueril ideologia antiprivatização.
Dilma percebeu a realidade, mas não se livrou totalmente da ideologia. Na privatização dos aeroportos, manteve a Infraero como sócia, uma lógica estatista sem sentido. Nas estradas, adota-se uma suposta esperteza política: provar que a privatização petista é melhor para o povo do que a tucana. Por isso, Dilma aferra-se ao modelo de modicidade tarifária para definir a concessão de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. Além de mito, esse modelo exacerba comportamentos oportunistas . Termina saindo mais caro. A presidente poderia averiguar por que as dez melhores estradas do Brasil estão em São Paulo, todas privatizadas pelos tucanos.
Com a retomada dos leilões, surgiram novos estudos sobre as vantagens da concessão de serviços de infraestrutura. Um dos melhores, de Raul Velloso, César Mattos, Marcos Mendes e Paulo de Freitas (“Infraestrutura: os caminhos para sair do buraco"’), mostrou as deficiências do modelo recentemente adotado e sugeriu mudanças para reduzir desperdícios e melhorar a eficiência dos respectivos investimentos.
Dilma corre o risco de desperdiçar parte de sua louvável iniciativa. Para evitar que os ganhos de produtividade sejam inferiores, é preciso outro passo essencial: livrar-se de vez da ideologia. A presidente pode marcar o seu governo por uma guinada na infraestrutura. Depende apenas dela.