domingo, outubro 28, 2012

Um olhar sobre 2013 - JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS


O Estado de S.Paulo - 28/10



Nas últimas semanas houve uma boa convergência nas expectativas para 2013. Vejamos os pontos mais relevantes.

O crescimento do final do ano corrente será algo mais lento do que o imaginado. É possível até que a expansão do quarto trimestre sobre o terceiro seja menor que a deste último sobre o segundo. O mesmo ocorre com a visão para 2013: os mais otimistas estão revisando seus números para a faixa de 3,5/4,0%.

Aqui na MB mantemos a projeção para a faixa de 3,0%/3,5% que mencionei nesta coluna no início de agosto ("2012 está perdido. O que será de 2013?").

Reafirma-se hoje que o canal externo não vai melhorar no próximo ano. Embora o risco de uma crise bancária tenha sido mais uma vez afastado pelo Banco Central Europeu, continuam em cena o baixo crescimento da região, o alto desemprego nos países devedores e um lento avanço nas reformas institucionais, que buscam elevar a integração europeia.

A economia americana ainda tem de atravessar seu precipício fiscal e a chinesa chegou, como esperado, aos 7,5% de expansão do PIB. Tudo somado, o mundo não deverá crescer mais que 3,5% em 2013. Com isto, expectativas e exportações seguirão fracas. No caso destas últimas, as coisas serão piores, dada nossa opção preferencial pelos perdedores da América do Sul, em especial a Argentina, pois devemos em especial ao protecionismo da presidente Kirchner a queda observada de 3,5% no quantum exportado de manufaturados, de janeiro a setembro deste ano em relação a 2011. Este é um tema que pretendo abordar proximamente.

A retomada do consumo também será mais lenta do que o desejado, por duas razões, pelo menos: os sucessivos estímulos à compra de veículos garantiram um desempenho razoável para a indústria neste ano. Entretanto, é evidente que parte do resultado é uma antecipação de consumo, que já está levando a uma desaceleração nas vendas. Ao mesmo tempo, tenho convicção de que a expansão de crédito pessoal nos bancos públicos está servindo muito mais para refinanciar um passivo já existente junto ao setor privado, do que novas compras, ao contrário do que ocorreu em 2008/2009. É por isso que o índice das expectativas do consumidor da FGV ainda não mostra melhora consistente até outubro.

Continua sendo verdade que os investimentos estão muito mal. Conforme cálculos da Inter.B Consultoria, que aqui já mencionei, as inversões em infraestrutura vêm caindo sistematicamente de 2,5% do PIB em 2009 para 1,96% neste ano, número incapaz de sustentar crescimento de alguma expressão. Notícias recorrentes de atrasos em grandes projetos, como a transposição do São Francisco, complementam-se com a recente avaliação feita pela Confederação Nacional dos Transportes, de uma sensível perda de qualidade nas estradas brasileiras nos dois últimos anos.

Na mesma direção, o conhecido trabalho realizado pelo Banco Mundial "Doing Business" mostra, na edição de 2013, uma piora expressiva na posição brasileira. Em dois anos caímos dez posições no ranking!

A decisão de conceder uma série de projetos para o setor privado é bem vinda. Entretanto, o sucesso destas ações depende de uma regulação adequada. Infelizmente, a experiência recente na área federal não é favorável, pela recorrência de dois problemas: excesso de objetivos e interferência em questões que devem ser resolvidas pelo concessionário e pelos mecanismos do leilão. Esses fatores explicam o insucesso da concessão de rodovias de 2007, a insatisfação com o modelo dos aeroportos e as dificuldades, que já mencionei aqui, da Petrobrás em atender simultaneamente os objetivos de elevar rapidamente a produção, com um bom padrão tecnológico, a preços parecidos com os internacionais e, ao mesmo tempo, com 60% de utilização de componentes nacionais. O resultado neste caso tem sido a estagnação da produção de petróleo, atrasos nos projetos, fenomenais estouros de orçamento e um enorme stress sobre a companhia.

O mesmo parece acontecer com o recente pacote elétrico, algo que deixamos para analisar mais adiante.

Estes três vetores sugerem que o crescimento de 3% a 3,5% para o ano que vem está de bom tamanho. Neste caso, a economia brasileira terá crescido apenas 2,4% ao ano entre 2011 e 2013.

Embora não exista, evidentemente, consenso, devo dizer que nunca vi tanta gente se convencendo que estamos presos numa armadilha de baixo crescimento, convicção que partilho já há algum tempo. De um lado, a expansão global deverá ser modesta, como se sabe. Ademais, vários analistas vêm chamando atenção para a forte desaceleração do desempenho econômico dos Brics, que pode ser mais tendencial do que apenas de curto prazo. A The Economist trouxe o declínio da África do Sul como tema de capa, argumentando que o baixo crescimento deve se manter por muito tempo. Também não é difícil construir casos semelhantes para a Rússia e para a Índia. Apenas na China, admite-se que a taxa de expansão de 7,5% ao ano possa ser mantida por mais tempo (aos interessados, sugiro a leitura do trabalho de Ruchir Sharma, do número de outubro da Foreign Affairs).

O caso brasileiro, entretanto, parece-me bem forte. Além do fator externo, há hoje uma grande convergência na aceitação de que temos baixíssima competitividade e um modestíssimo crescimento na produtividade. Como consequência, a expansão do Brasil se dá pela incorporação de mão de obra, que não só se tornou escassa, mas é pouco treinada para as necessidades da produção. Há também um vasto consenso que o nosso sistema educacional é paupérrimo e que tem avançado muito pouco. Ademais, apesar de todos os esforços, as empresas brasileiras são pouco inovadoras.

Argumenta-se, corretamente, que a queda na taxa de juros abre espaço para maior investimento. Entretanto, está para mim cada vez mais claro que a queda dos juros pagos pelo Tesouro Nacional será substituída, em larga medida, por maiores gastos de custeio, e não de investimento. Neste caso, parte significativa dos benefícios da queda da Selic se perderá, e o modesto crescimento da economia poderá continuar.