terça-feira, outubro 16, 2012
Presidente do BC pensa que a crise conterá o IPCA - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S. Paulo - 16/10
O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, declarou, em Tóquio, que um PIB mundial mais fraco ajuda o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do Brasil, a manter a inflação no centro da meta. Não pensamos que o presidente do BC queira uma crise econômica mundial para ganhar a sua luta contra a inflação, mas os argumentos que levantou nos parecem muito frágeis.
Segundo crê, uma economia mundial crescendo menos derruba os preços das commodities. É possível; embora, no caso do minério de ferro destinado à China, estejamos verificando que ã queda não é muito forte. Convém lembrar, além disso, que o Brasil se tornou um dos grandes exportadores de produtos básicos e que, sem a alta das commodities, a nossa balança comercial seria afetada muito negativamente.
O Brasil, por causa da desindustrialização, atravessa uma fase em que as importações de bens com maior conteúdo tecnológico - mais caros, portanto - estão aumentando. Um maior déficit dabalança comercial se traduziria por uma maior desvalorização da nossa moeda em relação ao dólar. Embora possamos esperar que essa desvalorização favoreça nossas exportações, teríamos, para isso,de elevar consideravelmente nossa capacidade de concorrência externa. Será difícil mudar os termos do comércio e dispensar a intervenção do BC no mercado cambial, o que tem um custo elevado.
Na sua alocução, Tombini voltou a criticar a política do Fed (o banco central dos EUA), por estar criando um excesso de liquidez. Ora, se há um país que se beneficia disso é, sem dúvida, o Brasil, uma vez que está conseguindo atrair capitais estrangeiros - sejam investimentos diretos ou empréstimos - obtidos a uma taxa de juros relativamente baixa. Sem a fonte de liquidez criada pelo Fed na economia mundial, nossa economia estaria em situação bem diferente. O Fundo Monetário Internacional (FMI), aliás, demonstra preocupação com o aumento do endividamento externo do Brasil.
Alexandre Tombini mostrou-se satisfeito com os sinais de recuperação da economia interna. Pareceu-nos mais otimista que a maioria dos analistas, cética quanto à velocidade dessa recuperação. E o ceticismo tem como fundamento a lentidão que temos demonstrado na realização de investimentos em infraestrutura e na indústria, para apoiar essa recuperação.
Anos sucessivos de pífio crescimento nos afastam cada vez mais de outros países emergentes, como o Chile ou o México, que souberam se aproveitar desta fase de dificuldades nos países mais maduros.