FOLHA DE SP - 23/09
O resultado do julgamento vai encher de júbilo uma parte da população e frustrar a outra parte
O mensalão está causando mais frisson do que "Avenida Brasil". Talvez a quantidade de público seja menor -talvez-, mas o interesse pela trama é muito maior, sem dúvida -e olha que os capítulos são longos e os diálogos (mais para monólogos), em grande parte do tempo, difíceis de serem compreendidos.
Mas quem está ligado cancela tudo e passa as tardes de segundas, quartas e quintas ligado à emocionante novela, a mais genuinamente brasileira que jamais houve no Brasil. Ao vivo e em cores. Esses se telefonam para trocar impressões sobre um voto que às vezes não entenderam bem e torcem pelos juízes que vão votar a favor ou contra.
A plateia que lê os jornais e é mais informada sabe -ou acha que sabe- quem vai votar pela absolvição ou pela condenação, quem vai condenar os bagrinhos, com a intenção de parecerem imparciais, e absolver os tubarões. Salvo imprevisto, dá para intuir o voto de cada ministro, mas que os votos podiam ser mais curtos, lá isso podiam.
Não sei como é cabeça de juiz, mas imagino que se pareça com a de qualquer mortal. Quando vão julgar -sobretudo em um processo como esse, que levaram anos estudando (só para revisar, o ministro Lewandowski levou seis meses, e se não fosse o ministro Ayres Britto, estaria revisando até hoje), penso que já têm opinião formada sobre os crimes que estão julgando. Um detalhe aqui, mais uma nota fiscal ali, já sabem se se trata de 38 inocentes ou de uma quadrilha, conforme denúncia do procurador. E, a não ser que surja uma nova interpretação de algum fato, dificilmente vão mudar de opinião.
Algumas frases marcaram: quando a ministra Cármen Lúcia disse que "o dinheiro está para o crime como o sangue está para as veias"; quando o ministro Gilmar Mendes disse que faltava "uma alma ao processo", e a fala do ministro Luiz Fux. Disse que se perguntasse a um filho se ele tinha feito alguma coisa errada e a resposta fosse não, seria uma coisa. Se respondesse "não há nenhuma prova contra mim", seria completamente diferente; grande ministro, Luiz Fux.
O resultado desse julgamento, seja ele qual for, vai encher de júbilo uma parte da população e frustrar as esperanças de uma outra parte.
Nesse campo não existe ninguém neutro, nem ninguém que não esteja acompanhando, "porque tem mais o que fazer".
Vai ser preciso ter paciência e esperar, mas para quem esperou durante sete anos, três ou quatro semanas não vão fazer diferença. E quando terminar o julgamento da ação penal 470 -eles não gostam que se use a palavra mensalão-, será hora de retomar a CPI do Cachoeira, que tem andado meio esquecida.
Há os que têm certeza de tudo -para um lado ou para o outro. Os que juram que serão todos condenados e os que asseguram que vai acabar tudo em pizza. Os que dizem que mais sabem são os que menos sabem.
Falta pouco para o último capítulo, e a temperatura está esquentando. Novidade, novidade mesmo, é o novo ministro indicado pela presidente, Teori Zavascki, que será sabatinado na terça, com a providencial ajuda do senador Calheiros.
Nunca antes neste país -pelo menos do primeiro governo Lula até agora- um ministro para o Supremo foi indicado com tal rapidez, e a sabatina no Senado marcada, também, com tamanha rapidez.