FOLHA DE SP - 24/08
O relatório da ONU "Estado das Cidades da América Latina e Caribe 2012" indica que, em 2010, 79,4% de sua população vivia em cidades.
A região é uma das mais urbanizadas do mundo, perdendo só para o norte da Europa (84,4%) e a América do Norte (82,1%). Mas é, também, a mais desigual do planeta.
A América Latina passa por forte redução da fecundidade, que despencou de 5,8 filhos por mulher, em 1950, para 2,09, em 2010.
Essa mescla de urbanização com diminuição da fecundidade põe a região na fase três do modelo de transição demográfica (MTD), proposto em 1929 por Warren Thompson. Nesta etapa, flagelos como fome e diarreias, que castigam em especial os bebês, já foram controlados com avanços na alimentação e na saúde; com a urbanização, os casais passam a ter menos filhos.
Isso ocorre porque, em zonas rurais, filhos ajudam no trabalho e amparam os pais na velhice. Nas metrópoles, a situação é bem outra: filhos não precisam garantir o sustento do progenitor com acesso a algum sistema de previdência e ainda acarretam custos extras (como alimentação, saúde, educação etc.).
Acrescente-se a escolarização das mulheres, que lhes dá meios e motivos para evitar filhos, e a fecundidade cai drasticamente. Os atuais 2,09 filhos por mulher, média latino-americana, estão logo abaixo da taxa de reposição (2,1).
Por causa dessas características, é na fase três do modelo que ocorre o que os especialistas chamam de janela demográfica, na qual a proporção de trabalhadores na ativa é mais alta que a de inativos. Isso favorece a poupança e o investimento pela sociedade.
A América Latina precisa aproveitar para resolver os principais problemas sociais, pois a maioria de seus países se avizinha do apogeu dessa transição demográfica.
A população está parando de crescer, mas não de envelhecer. Quando a parcela de idosos que já não trabalham ganhar preponderância, o bônus demográfico estará esgotado e aparecerá no horizonte um novo ciclo de problemas.
É o estágio quatro do modelo Thompson, em que os gastos com previdência e saúde aumentam muito, sem quantidade suficiente de novos contribuintes para manter a engrenagem funcionando.
Causa consternação ver que a América Latina tem a pior distribuição de renda do mundo num tempo em que já está para cerrar-se a janela demográfica.
Com o ônus crescente de custear uma vida digna para os idosos, estreita-se a possibilidade de observar o nível de investimento necessário para sustentar a expansão contínua de riqueza e bem-estar.