BRASIL ECONÔMICO - 24/08
Herdeira do Iluminismo, a esquerda tem na luta por uma maior igualdade entre as pessoas o seu valor essencial. Essa luta é travada principalmente no campo da educação. Dar oportunidades iguais às crianças para que elas se diferenciem conforme o mérito e esforço deve ser o mínimo de justiça que deveríamos buscar. No Brasil, estamos fazendo o inverso. Porque não conseguimos ter na educação pública qualidade similar à educação privada no ensino fundamental e médio, caminhamos para abolir o mérito para tentar dar chances "iguais" de acesso ao ensino superior. Os números do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) mostram claramente a distância entre as crianças cujos pais podem pagar uma escola privada e aquelas condenadas ao ensino público. Enquanto a média brasileira do IDEB do ensino médio público é 3,7, a do ensino privado é 5,7. Nas séries finais do ensino fundamental, a distância é a mesma: o ensino público tem média de 4,1 e o privado 6,0. O IDEB considera que a nota 6 é a média da qualidade das escolas dos países desenvolvidos.
O governo comemora ter alcançado a meta prevista para o ensino público no fundamental, que passou de 4,4 em 2009 para 4,7 em 2011, sendo que a melhora foi devida a diminuição da repetência, já que o aumento do aprendizado contribuiu com 0,22 na nota.
No entanto, o IDEB só comprova que a educação pública continua péssima. Precisamos ser mais ambiciosos na meta de alcançar uma educação igualitária. Ter como meta no ensino médio, em 2021, 5,2 no IDEB, nota ainda menor que os atuais 5,7 do ensino privado, é confessar o fracasso do ensino público antecipadamente.
A lei, já aprovada pelo Congresso, que reserva 50% das vagas das universidades federais para estudantes oriundos da rede pública de ensino e ainda reserva parte dessas vagas para negros e pardos, destrói o valor do mérito escolar que deveria balizar o acesso ao ensino superior. O governo não resolve o problema da educação básica e não tem como meta resolver, então se dá um "jeitinho" de fazer com que os estudantes de escolas públicas possam concorrer com os das escolas privadas.
Enquanto tradicionalmente a esquerda busca igualdade, o PT e seus aliados que se dizem de esquerda ressaltam as diferenças. Enquanto a esquerda quer políticas universais, o PT esmera-se em fazer políticas compensatórias, criadas pelos governos neoliberais para mitigar os efeitos de seu modelo econômico.
É urgente reformular nosso sistema de ensino para que as oportunidades iguais deixem de ser mero discurso. Recrutar as melhores cabeças da nação para serem os professores da próxima geração. Aprovar um currículo mínimo nacional unificado.
Fornecer ensino médio verdadeiramente profissionalizante sem excluir a possibilidade de avançar para o ensino superior.
Conseguir uma gestão eficiente dos recursos aplicados focada em resultados, com metas bem mais ambiciosas que as do governo de turno. Somente uma educação pública, universal e de qualidade pode realizar nosso ideal de justiça, além de ser o principal meio de aumentar a produtividade da nossa economia.
Não fornecer essa educação para nossas crianças é condenar nosso futuro enquanto nação.