sexta-feira, agosto 24, 2012
A política comanda a economia - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 24/08
Faz cinco anos que o mundo vive sob o impacto de uma das crises econômicas mais graves que a humanidade conheceu. Em países como Espanha e Grécia, a taxa de desemprego de hoje é igual à que ocorria nos Estados Unidos no auge da Grande Depressão dos anos 1930. No caso da Grécia, projeta-se que mais de 30% da população ativa estará desempregada no próximo ano. Certamente um recorde mundial.
Na minha coluna anterior, trouxe ao leitor da Folha um cronograma detalhado dos fatos que compõem a crônica destes dias terríveis nos países mais ricos do mundo. Hoje, gostaria de refletir sobre o que podemos esperar nos próximos meses e, principalmente, no início de 2013, nas economias avançadas que estão no centro desse longevo furacão econômico.
Uma primeira observação que se impõe ao analista é a de que, antes de chegar aos fenômenos econômicos em si, é preciso ter em conta a situação política nos países mais diretamente envolvidos. Vou mais longe nesta minha observação: para acompanhar e projetar a economia mundial no futuro próximo, é preciso conhecer a dinâmica política das democracias ocidentais e, principalmente, o padrão de comportamento das lideranças que formam os governos desses países. Daí a dificuldade de um grande número de analistas em acompanhar a economia nos últimos meses.
Podemos notar uma característica de ciclotimia no comportamento dos agentes econômicos, que oscila entre momentos de pânico associado a um fim de mundo próximo e momentos de maior estabilidade e confiança no futuro. Para mim, a origem desse comportamento vem exatamente do domínio da política sobre a teoria econômica no encaminhamento da crise.
Tomemos o exemplo da chanceler alemã, Angela Merkel, a mais poderosa mulher no mundo de hoje.
Todos sabem que a Alemanha é a peça-chave na equação econômica –e política– da zona do euro e que depende de seus dirigentes a continuidade da União Europeia nos padrões de hoje ou uma ruptura estrutural no seu conceito original.
Pois eu vinha notando uma mudança sutil –mas radical– nas declarações de Merkel em relação, principalmente, à possibilidade de o BCE intervir no mercado comprando títulos soberanos dos países vistos como mais frágeis.
Essa decisão é considerada por vários analistas como a única com poder suficiente para estabilizar os juros dos papéis soberanos de Espanha, Itália, Portugal e outros. Pois na semana passada, em uma bucólica viagem de Estado ao Canadá, a chanceler alemã deu uma clara declaração de apoio entusiasmado ao presidente do BCE, o italiano Mario Draghi.
Minhas incertezas em relação ao porquê do apoio de Merkel ao ousado plano do BCE –irresponsável, na opinião do Bundesbank– deixaram de existir quando, no fim de semana seguinte, li na internet um artigo fantástico de um analista político europeu associando essa mudança de 180 graus a um fato que tinha me escapado: a Alemanha terá eleições para seu Parlamento no ano que vem. E Merkel é candidatíssima a um terceiro mandato como chanceler da Alemanha.
Nessas condições, a única alternativa que se apresenta a ela é manter a crise na Europa sob controle via ações pontuais de apoio aos países na marca do pênalti. Ou seja, não há mais espaço de tempo até as eleições alemãs para grandes soluções estruturais sem que a chanceler incorra em altíssimos riscos eleitorais.
E o único e grande aliado de Merkel nessa busca para levar a crise em banho-maria até o ano que vem é Draghi. Com o BCE comprando, no mercado, títulos de prazos menores sem limite de valor, o Fundo Europeu de Estabilização poderá dar conta das necessidades financeiras dos países em dificuldades, inclusive a Itália.
Nesse cenário, haverá redução importante dos riscos de colapso financeiro e os mercados devem voltar a viver dias menos agitados, apesar de um cenário econômico difícil devido ao crescimento econômico ainda de recessão.
Reformas estruturais mais duradouras na zona do euro devem ficar mesmo para depois das eleições alemãs.