O Estado de S. Paulo - 26/06/2012 |
Há um raro consenso no debate econômico brasileiro atual quanto à necessidade de alavancar os investimentos. Trata-se de algo imprescindível não apenas para romper os gargalos que impedem uma maior decolagem da economia, mas também para tornar sustentável o crescimento econômico. Na permanência das condições atuais do padrão de desenvolvimento brasileiro, que combina um forte potencial de consumo com fatores de competitividade sistêmica adversos, o crescimento futuro sempre será interrompido. Os limites da expansão das atividades serão dados pelos gargalos em infraestrutura e alguns setores industriais ou pela pressão exercida pelo crescimento das importações e o seu impacto no balanço de transações correntes. No entanto, apesar do relativo consenso no diagnóstico, há divergências quanto às estratégias para o enfrentamento do problema. Os economistas da corrente principal do pensamento econômico entendem que a formação prévia de poupança é um pré-requisito imprescindível para financiar os investimentos. Os economistas heterodoxos, inspirados nas ideias keynesianas, entendem que o principal é propiciar um ambiente favorável, leia-se fatores de competitividade, e uma expectativa positiva de crescimento da demanda para despertar o interesse nos investimentos produtivos. Para o primeiro grupo, o modelo vigente de fomento ao consumo se esgotou e é preciso sacrificar o crescimento em prol da formação de poupança. Para o segundo, é desejável manter o apetite pelo consumo para que isso motive os projetos de expansão dos empresários. Outra divergência está no papel do Estado. Os ortodoxos veem a participação estatal como distorção, colocando todas as fichas na racionalidade dos mercados. O outro grupo entende que a coordenação é tarefa precípua e insubstituível do Estado, que tem também no seu papel proativo um importante instrumento, especialmente nas crises, quando assume função anticíclica. O Brasil conseguiu um expressivo salto na relação Formação Bruta de Capital Fixo/Produto Interno Bruto, que cresceu da média de 15%, na primeira metade da década passada, para cerca de 19%, nos últimos anos. Trata-se, no entanto, de um nível insuficiente para garantir o crescimento econômico de forma sustentável. Teremos de ampliar esse indicador para algo entre 23% e 25% do PIB, a depender da sua composição. Para isso, será fundamental não apenas ampliar e acelerar os investimentos do Estado nas três esferas da Federação e das empresas estatais, mas também cooptar o setor privado para fazê-lo. A questão básica é melhorar as condições de competitividade, como tributos, custo de capital, burocracia, câmbio, etc., para que seja mais vantajoso produzir do que importar. Senão a preferência será a de trazer os produtos prontos do exterior, em vez de investir e correr o risco de fabricar aqui. A ampliação de oferta de financiamento via bancos públicos, embora uma condição necessária, por si só é insuficiente para induzir os investimentos, uma vez que estes são precedidos da análise de viabilidade econômica. A elevação do coeficiente de importações em todos os segmentos tem denotado uma clara preferência por trazer de fora não apenas insumos e máquinas, mas produtos de consumo. As recentes mudanças na política econômica de redução dos juros, desvalorização do câmbio e desoneração localizada são positivas para ampliar a competitividade dos produtos brasileiros, não apenas na exportação, mas para concorrer com os importados. É preciso garantir a perenidade e aprofundamento das mudanças iniciadas, assim como avançar na melhora dos demais fatores, para fomentar a geração de valor agregado local. A iniciativa do governo federal de envolver os governos estaduais na questão é bem-vinda, não apenas pelo seu papel nas decisões dos próprios investimentos, mas também porque, na questão tributária, por exemplo, pode fazer a diferença |