O GLOBO - 03/03/12
O setor de petróleo tem pela frente três grandes questões na sua
agenda em 2012. A primeira é a insistência numa política pouco
racional, e nada pragmática, sobre a questão do conteúdo nacional dos
equipamentos. O risco é o da submissão do ritmo de extração do
petróleo do pré-sal ao desenvolvimento da nossa indústria fornecedora
de bens e serviços. Isto vai implicar em atraso na produção e
encarecimento do custo de exploração e produção. Já pode ser
percebido, se observarmos a estagnação da produção da Petrobras nos
últimos três anos e o resultado das licitações das sondas, que teve de
ser renegociada devido aos altos preços.
Com isso, estará sendo prejudicada toda a sociedade brasileira, que
tem pressa em monetizar o petróleo do pré-sal, em beneficio de um
setor da economia brasileira. Isso em nome de uma política industrial
que na realidade está incentivando a construção de um parque
industrial ineficiente e talvez vá produzir os bens e serviços do
setor de petróleo mais caros do mundo. A principal vitima é e será a
Petrobras. Um exemplo de uma política industrial equivocada ocorreu
após a obrigatoriedade de a navegação de cabotagem no Brasil ser
realizada com navios de bandeira brasileira (Decreto-Lei 666/69).
Concedeu-se um incentivo à indústria naval, mas acabou-se por sucatear
os navios utilizados no transporte, devido à ausência de concorrência.
Outro exemplo foi a política de reserva de mercado na informática.
Quem paga a conta são sempre as gerações futuras.
Outra questão é a escolha entre os desejos da Petrobras e a
oportunidade de se realizar ainda este ano leilões de campos no
pós-sal e no pré-sal. A Petrobras hoje encontra-se com um número
grande de projetos, principalmente as reservas que foram concedidas no
processo de sua capitalização, e, portanto, não teria interesse na
realização de novos leilões. Qualquer nova área trará dificuldades
tanto financeiras como de mão de obra e mesmo gerencial.
O terceiro aspecto é a política de preços da gasolina e do diesel.
Historicamente, o preço dos combustíveis no Brasil sempre foi usado
como instrumento de política econômica, tanto com o objetivo de
incentivar o desenvolvimento quanto para controlar a inflação. No
entanto, em nenhum momento a Petrobras foi tão penalizada como nos
últimos oito anos. Neste período, as perdas da estatal podem chegar a
R$ 12 bilhões, resultado da diferença entre o preço que a empresa
cobra pelos derivados de petróleo no mercado interno e o preço
internacional desses produtos. Isso tem se agravado. A solução dessas
três questões nada tem de trivial. Envolve um projeto político de
poder.