sábado, março 03, 2012

Quatro farsantes da política fiscal - PAUL KRUGMAN

FOLHA DE SP - 03/03/12

Os republicanos que estão gritando sobre o deficit não o reduziriam;
fariam o contrário, de fato

Mitt Romney está muito preocupado com nosso deficit orçamentário. Ou
pelo menos é o que diz; gosta de alertar que os deficit do presidente
Obama estão nos conduzindo a um "colapso em estilo grego".

Se isso é fato, por que Romney oferece uma proposta de Orçamento que
geraria dívida e deficit muito maiores do que os causados pela
proposta do governo Obama?

É claro que Romney não está sozinho em sua hipocrisia. Os republicanos
que continuam na disputa pela indicação presidencial são farsantes
fiscais. Fazem advertências apocalípticas sobre os perigos da dívida
do governo e, em nome da redução do deficit, exigem cortes selvagens
nos programas que protegem a classe média e os pobres. Mas propõem
desperdiçar todo o dinheiro economizado concedendo novos cortes de
impostos aos ricos.

O Comitê por um Orçamento Federal Responsável, apartidário, publicou
análises das propostas orçamentárias dos republicanos e da mais
recente proposta de Obama. As propostas de Newt Gingrich, Rick
Santorum e Romney resultariam todas em dívida nacional maior, em uma
década, se comparadas à proposta de Obama para 2013.

Romney afirma que seus cortes não causariam explosão do deficit porque
promoveriam crescimento mais rápido, e isso resultaria em alta na
arrecadação. Você pode considerar o argumento plausível, mas para isso
teria de ter passado as duas últimas décadas dormindo; se não o fez, é
provável que recorde que as mesmas pessoas garantiram que o aumento de
impostos de Bill Clinton em 1993 resultaria em desastre econômico, e
que os cortes de George W. Bush em 2001 gerariam imensa prosperidade.
Nenhuma dessas previsões se confirmou.

Assim, os republicanos que estão gritando sobre o deficit não o
reduziriam -fariam o contrário, de fato.

Outra organização apartidária, o Centro de Política Tributária,
analisou a proposta de Romney. Constatou que, comparada à política
vigente, ela elevaria os impostos dos 20% mais pobres, com cortes
drásticos em programas como o Medicaid. O 1% mais rico receberia
imensos cortes de impostos -e o 0,1% mais rico se sairia ainda melhor.

Os planos republicanos também cortariam os gastos em curto prazo,
imitando as catastróficas medidas europeias, e imporiam cortes de
impostos capazes de destruir qualquer Orçamento, em prazo mais longo.

A questão é determinar se alguém que ofereça essa tóxica combinação de
irresponsabilidade, guerra de classes e hipocrisia será mesmo capaz de
se eleger presidente.

Tradução de PAULO MIGLIACCI